quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Nada é impossível




















Nunca diga que algo é impossível...
As coisas são no máximo improváveis.
Mas nunca impossíveis!

Durante muito tempo, sobre um móvel de mogno da sala de jantar, ele manteve-se em profundo e tenebroso silêncio.
Tinha como companheiros alguns porta-retratos da família e os raios de sol que entravam pela janela semi-aberta durante as manhãs
Chegou-se a pensar que era um preguiçoso, pois que não saia de dentro daquele estojo de couro preto.
Lembro-me das vezes que levantei o estojo para limpar a poeira que acumulava-se , suspirava com tristeza e pensava na triste existência dele.
Passaram-se muitos anos, até que um dia tomei coragem e abri o estojo, libertando-o de sua solidão!
Decididamente, um violino não foi feito para ficar em silêncio!
Até tentei tirar algum som, um gemido que fosse, mas ele manteve-se calado. Não sei se por medo, vergonha ou por incapacidade.
Encontrei um professor e passei a frequentar aulas semanais com mais três aprendizes.
Tenho que confessar, até com certa vergonha, que algumas vezes tive vontade de bater no professor com o violino e sair correndo.
Por muitas semanas voltei para a casa com aquela sensação de cansaço, de dever não cumprido.
Lembrei das aulas de piano que tive quando criança e da professora batendo na minha mão contra o teclado e pensava :
- Minha avó materna era sobrinha neta de Puccini. Não é possível que eu não consiga tocar pelo menos uma música neste violino.É questão de genética e de um pouco de teimosia!
Certa vez perguntaram-me porque eu queria aprender a tocar violino. Por satisfação pessoal? Para Impressionar seu namorado.,amigos ou familiares?
Respondi rindo ,que era porque era teimosa, e além do mais, as partituras de violino eram todas na clave de sol.
Alguns meses depois, comecei a fazer algum progresso, já sabia o nome das quatro cordas e sabia passar breu como ninguém no arco. Além disso,assim que a aula terminava, em questão de segundos, meu violino já estava devidamente confinado no estojo e eu, pronta para ir embora.
Ao final do semestre, pedi para o professor fazer uma partitura facilitada de Sous le ciel de Paris
para eu tocar na apresentação do final do ano.
Sabem, é minha música favorita e foi com muita alegria que a toquei junto com meus companheiros de aula. Algum tempo depois, começamos a formar uma orquestra e outros instrumentos foram aliando-se ao grupo. Meu violino é um instrumento básico para estudantes, um desses Cremona made in China, todavia, não sei explicar como o arco que veio junto é um arco John Brasil , considerado um dos melhores. Há dois anos troquei as crinas do arco por crinas da Mongólia e acreditem, fez toda a diferença.
Hoje,seis anos depois, somos uma orquestra de verdade , composta por 50 músicos e fazemos apresentações em Teatros, tocamos em alguns casamentos e nos cultos da Igreja Presbiteriana de São Paulo. Aprendi a ter outra visão de mundo, a ser mais disciplinada , mais culta e a ter mais entusiasmo pela vida, . Pesquiso sobre os grandes compositores e a música clássica passou a fazer parte do meu dia à dia.
É uma coisa impressionante! Todos nós sabemos muito bem quais são as nossas qualidades e que temos um conjunto de características típicas que nos fazem ser especiais, únicas. Basta abrirmos os olhos e nos darmos o devido valor, nos respeitando e respeitando nossa natureza.

Nana Pereira

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