terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Simpatias de ano novo


























Para se ter sorte no ano-novo, vale tudo!
Para ter um ano doce, comer um merengue ou suspiro, logo após à meia-noite, o duro é a quantidade de calorias ingeridas, que depois nenhuma simpatia dará jeito.
Segundo a tradição, devemos comer lentilha ou, na falta desta, feijão. Acredita-se os grãos que aumentam de volume durante o cozimento trazem fortuna. Neste caso , nós brasileiros, fãs de feijão, seríamos abastadíssimos!
Segundo as crenças populares, aves não devem ser preparadas na ceia de ano novo, porque ciscam para trás e possuem asas. Sendo assim, fariam a felicidade voar embora. É aconselhável preparar carnes como boi, cordeiro e principalmente porco, animal que fuça e empurra a terra para frente. Peixes como atum, bacalhau e salmão, considerados peixes "destemidos", também são recomendados.
Quanta tirania gastronômica!
Eu prefiro comer aquilo que tenho vontade, independente de voar ou nadar, ou mesmo boiar.
E ainda temos aquelas simpatias em que usamos as cores como amuletos da sorte.
Comer uvas na virada do ano garante prosperidade e fartura de alimentos. Para garantir também dinheiro, devemos guardar as sementes na carteira ou na bolsa, até a troca do próximo Ano-Novo.
Se comer uvas, quero saboreá-las sem preocupar-me em guardar as sementes.
Ainda tem aquelas sobre os cuidados com a casa!
A casa deverá ser limpa, varrendo-a de trás para frente, e o lixo deve ser deixado fora. As vassouras devem ser queimadas e as cinzas enterradas.
Minha nossa!
Não seria melhor enterrar as vassouras sem precisar queimá-las?
Fico pensando se alguém faz todas essas simpatias!
Lembro que na infância, minha mãe gostava de passar o Reveillon na praia. Para mim era uma verdadeira tortura!
A areia da praia ficava lotada de flores, velas , garrafas, cacos de vidro.
O sono tomava conta de mim e minha vontade era a de sair correndo daquele festival de bobagens.
Hoje em dia o grande barato é ver a queima de fogos!
E todo ano é a mesma coisa, milhões de pessoas olhando os fogos coloridos no céu por quinze minutos. Um monte de gente com garrafas e taças nas mãos, mais bêbadas do que o de costume, brindam a chegada do novo ano com o cérebro atordoado pelo álcool.
Gosto de estar bem sóbria na virada do ano para fazer novos planos, ter novos sonhos e acima de tudo comemorar o fato de ter vivido mais um ano.
Comerei cerejas e lichias alheia às tradições.
À meia-noite quero namorar as estrelas, gargalhar de felicidade, chorar de emoção, abraçar e beijar sem pressa quem estiver ao meu lado, sentir as batidas de nossos corações , sorrir e depois adormecer com esperança de acordar no dia seguinte para contemplar o céu mais uma vez.
Não farei promessas, apenas viverei um dia de cada vez!

Nana Pereira

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Noite feliz


























Todo ano era aquela correria, enfeitávamos a casa, armávamos nossa árvore e fechávamos a porta rumo ao Rio de Janeiro.
Era com tristeza que deixava para trás minha casa tão natalina, mas as crianças mereciam passar o Natal com os primos, tios e avós.
Foi assim por longos doze anos!
Ainda me lembro da primeira vez que comemorei o Natal em casa!
Isso foi há uns quinze anos atrás, éramos só nós três.
Dividi as tarefas e cada uma de nós deu sua contribuição na ceia.
No ano seguinte uma amiga da minha filha caçula juntou-se a nós. De família libanesa não comemorava o Natal.
No ano seguinte, um amigo judeu juntou-se ao grupo; era a primeira figura masculina em nossa festa.
Rodrigo era muito alegre e brincalhão e a partir desta data era presença importantíssima no Natal.
Depois vieram Soraia, que é adventista,Ana Maria que é espírita, Arlete que ficou muito cedo órfã de pai e mãe, as irmãs Lourdes e Marlene,minha vizinha Aracy, os namorados de minhas filhas e meus maridos (cada um na sua época, é claro)
Lembro que um ano , o "artista principal" , o peru ,ficou por conta da minha amiga Soraia.Todos estavam ansiosos porque já era quase meia-noite e ela não chegava.
As sobremesas sempre ficavam por minha conta e eram preparadas com muito esmero e carinho.
Invariavelmente, panelas e assadeiras iam para o lixo após os festejos, nunca fui muito boa com essa coisa de limpar panelas.
Fazíamos nosso "inimigo oculto" e era diversão na certa.
É claro que sempre haviam presentinhos para todos, mas o ponto alto da noite era mesmo a entrega do "inimigo".
Depois vieram as "performances" e tivemos malabaris, danças,música natalina no órgão, saraus e até um trio de rock. Cada um dava sua contribuição segundo seus talentos.
O mais bonito de tudo era que, apesar de sermos de religiões diferentes, todos fazíamos oração antes de comermos.
Eu preparava cartelas com passagens bíblicas sobre o aniversariante da noite, cada um lia a sua , depois todos orávamos o "Pai nosso" e só aí começava a festa.
Acho que minha alegria em festejar o Natal era contagiante, porque depois de alguns anos muitas das pessoas que passavam a noite de Natal conosco, começaram a procurar suas famílias e parentes para juntos comemorarem esta noite que é tão terna e familiar.
Recordo com saudade de cada um desses Natais, vejo as fotos, as fitas que gravamos, o coral que cantou "Noite Feliz" tão desafinada que choramos de tanto rir.
Ainda não consigo entender como algumas pessoas acham a noite de Natal triste, sempre haverá alguém que se juntará a nós nesta noite e "Onde houver duas ou mais pessoas reunidas em meu nome, por certo ali estarei"

Nana Pereira

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Que esse Natal não seja feito apenas de cores e comidas, luzes, prazeres e bebidas. Que haja partilha e esperança.
Que em nenhuma mesa falte pão, e em todos corações reine o amor.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008













Que em 2009 sejamos mais prósperos em amor,
que o desejo de ser seja maior que o de ter ,
que tenhamos atitudes mais humanas diante de nossos semelhantes,
que acreditemos mais em nossos talentos,
e que tenhamos mais motivos para sorrir do que chorar.
Que o Natal seja cheio de luz!

Nana Pereira

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A menina de alma perfumada




















Naquele ano em Águas da Prata, na época da primavera, o jardim da casa branca com janelas azuis, floriram de uma maneira diferente dos outros anos.
Os arbustos de hibiscos estavam carregados de flores, as flores de maio continuavam florindo sem parar.
As roseiras chegavam a envergar , tamanha a quantidade de rosas.
Haviam flores de todas as cores, mas misteriosamente, as flores vermelhas eram as que mais chamavam a atenção.
Tereza ,uma mulher de rosto tranquilo, desfilava sua barriga de grávida pelo jardim todas as tardes, sentava-se no banquinho branco e sorvia o perfume das flores.
Seu pai, um homem claro, de olhos muito azuis ,alegre e muito criativo, não saía do "quartinho dos inventos", criando brinquedos e até um balanço para o neto que estava a caminho.
Os vizinhos gostavam de passear à tarde pela frente da casa, apenas para contemplar tal maravilha da natureza!
Conceição Aparecida nasceu em 21 de fevereiro!
Um bebezinho pequeno, com bochechas rosadas igual a todos os bebes que conhecemos.
Foi assim até os três anos. Irrequieta e peralta , gostava de perambular pelo jardim, mas não somente para apreciar as flores, mas para saboreá-las.
Sim, a pequena criança de cabelos cacheados gostava de colocar as pétalas na boca e mordê-las suavemente , sentindo o perfume intenso que delas desprendia.
Não havia flor que lhe escapasse, as de pétalas vermelhas eram suas prediletas, nem os espinhos das roseiras impediam que se banqueteasse.
Tereza não entendia esse desejo incontrolável da filha, tinha medo que invadisse os jardins dos vizinhos e fizesse deles um sua morada.
Foi assim durante toda a infância e mesmo na idade adulta, continua a deliciar-se com as flores que encontra em seu caminho.
Penso que a pequena comedora de flores tenha alma perfumada ou que seja uma flor encantada que foi transformada em mulher.
Nunca entendi porque não colocaram seu nome de flor!

Nana Pereira

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Carregando pedras


























Algumas pessoas deixam de fazer coisas para não terem trabalho!
Já ouvi mulheres dizendo que não queriam ter filhos para não perderem a forma física, para terem uma casa impecável sem brinquedos espalhados pela sala, sem farelos de biscoitos no sofá, sem barulho nos fins de semana e para não atrapalhar suas carreiras .
Fico só imaginando a vida delas.
Ora , é preciso carregar pedras enquanto se descansa!
Tudo tão certinho sem emoções violentas pode levarnos à depressão ! (risos)
Viver é emocionante, mas dá trabalho!
Ontem ouvi uma mulher dizendo que era uma pessoa realizada!
No mesmo instante pensei que não me considero uma mulher realizada.
Ainda tenho tantas coisas para realizar!
Acho mesmo, que nunca me sentirei realizada pois sempre haverão coisas que ainda não fiz, que quero aprender.
Aquele quadro que ainda não pintei, a viagem à Paris que ainda não fiz, a música que ainda não toquei, os livros que ainda não escrevi, as flores que ainda não plantei no meu jardim,aprender a dançar tango , os netos que ainda não tive e tantas outras pequenas coisas que com certeza inventarei.
A frase soou como aqueles finais dos contos de fadas "E foram felizes para sempre".
Que vida mais monótona teve a Branca de Neve, casou-se com o príncipe e foram felizes para sempre.
A vida dela parou ali, naquele momento,ou seja, a resistência do chuveiro deles nunca queimou, a água do filtro nunca acabou, o cachorro deles não destruiu os dois sofás da sala,nunca armaram uma árvore de Natal com as crianças , o violino dela nunca caiu no meio de um concerto, os pombos nunca invadiram o quintal deles e ela nunca queimou panelas.
Ficaram velhos num casamento morno e chato, sem filhos, sem os problemas rotineiros que nos torna humanos.
Que me perdoem os Irmãos Grimm ,eu escreveria uma história diferente , mais divertida .

...Era uma vez, uma linda princesa chamada Branca de Neve, cuja beleza não era lá essas coisas, de pele clara,olhos sonhadores, cabelos lisos cor de mel, meiga, tímida e brincalhona.
Era exímia fazedora de bolos de chocolate , bolinhos de chuva e brigadeiros.
Seus brigadeiros faziam um enorme sucesso em todo o reino!
Casou-se três vezes!
Do primeiro marido teve duas lindas filhas, uma formou-se em administração e trabalha na área financeira de um grande Banco, a outra formou-se em hotelaria e atua na área de Marketing de uma empresa do ramo de bebidas.
Aprenderam idiomas, música, dança e conheceram Guy de Maupassant e Fernando Sabino muito cedo.
O segundo marido era bem mais jovem que ela, queria filhos e ela já tinha 38 anos e não pretendia tê-los mais, todavia foi com ele que ela viveu os melhores cinco anos de sua vida.
O terceiro marido era um sapo, ciumento e egoísta. Não podia dar certo mesmo.
Sabe-se que atualmente ela toca violino em uma orquestra educacional, anda publicando algumas de suas histórias , tem queimado muitas panelas, plantado girassóis em seu pequeno jardim , feito merengue de morangos e carregado pedras, enquanto aguarda que o quarto marido a encontre para começar uma nova história de amor.

Nana Pereira

domingo, 30 de novembro de 2008

A casa 37






























Nenhum sinal de vida, nenhuma viva alma, a casa parece abandonada!
O muro de cor verde musgo, muito sujo e com a pintura descascada não me deixam mentir.
É uma daquelas casas que instigam nossa imaginação : será que o morador desistiu da vida?
Será que abandonado pela mulher, deixou-se cair na poltrona encardida da sala e ainda se pergunta "onde foi que errei"?
Sim, porque só pode ser um homem o morador da casa 37, visto que não há enfeite de Natal na porta de entrada e o jardim foi esquecido!
O velho portão de madeira parece que há muito não é aberto, na calçada em frente, um arbusto de hibiscos vermelhos carregado de flores, é a única evidência de vida no local.
À sombra do arbusto, um jovem mendigo dorme a sono solto, de boca aberta com seu vira-lata ao lado.
Pessoas passam pelo local sem perceber sua presença.
Olho novamente para a casa abandonada, vejo que a janela está semi-aberta , mas não há vestígios de luz ou de um rádio tocando música.
Percebo que o jardim , no passado, já foi bem cuidado, pequenas roseiras secas e até um jasmineiro ressecado estão lá para provar o que eu digo.
Talvez a mulher tenha falecido, e desgostoso, o homem não saiba como recomeçar a nova etapa de sua vida.
Não sei, mas há algo de triste naquela casa, um silêncio doído, uma história de amor interrompida.
Curiosa, fico parada em frente ao portão. O vira-lata me olha sem interesse e volta a dormir ao lado do seu dono.
Verifico a hora no meu relógio de pulso e vejo que ainda tenho alguns minutos antes de prosseguir meu caminho, ajeito minha bolsa no ombro direito enquanto carrego o violino na mão esquerda.
Saio andando lentamente, pensando nas músicas que iremos tocar daqui a pouco, deixo que a tristeza daquela casa abandone meus pensamentos , suspiro profundamente e aperto o violino contra o meu corpo.
Elevo meus olhos para o céu, que hoje está tão azul, tropeço na calçada esburacada e só então lembro que não havia tomado café antes de sair de casa.

Nana Pereira

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Sopa de letrinhas

























É incrível a maneira como as pessoas escrevem hoje em dia.
Fica até difícil entender o teor do assunto muitas vezes.
Ora!, escrever deveria ser como respirar, penso!
Não sei ainda onde iremos parar, ou acabar, mas já vejo as manchetes nos jornais de grande circulação:

- Mulher morre afogada na banheira tentando achar o trema de ungüento!

- Jovens matam lentamente a gramática todos os dias na Internet!

- Rapaz perde a namorada ao escrever Parabéns minha doçura com SS!

- Jovem executivo perde emprego ao empurrar a crase para baixo do tapete!

- Dentista perde paciente ao mandá-la "gospir"!


Aprecio muito a frase do Mario Quintana que diz "Às vezes a gente pensa que está dizendo bobagens e está fazendo poesia" , mas o que tenho mesmo visto é um monte de pessoas escrevendo bobagens.
Vejo tanta bobagem que meu cérebro vez ou outra entra em curto circuito.
Uma verdadeira atrocidade, um amontoado de palavras escritas como se fosse apenas uma sopa de letrinhas.
No outro dia comentei sobre Rubem Alves com uma amiga da minha filha e ela disse "Quem é esse"?
Tive que fazer um resumo da biografia do Rubem e percebi o brilho nos olhos dela.
Fico assustada com a falta de conhecimento das pessoas !

Parece que aquela frase famosa "The book is on the table" está em desuso, acho que The book is in the drawers .
Que pena!
Penso que não existe coisa melhor na vida do que ler e aprender, viajar no pensamento.

Abaixo a sopa de letrinhas!

Nana Pereira

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Alma de borboleta


























Dia de armar a árvore de Natal aqui em casa é dia de festa.
Para mim é o dia mais importante e feliz do ano .
Tem sido assim desde sempre.
Gosto de escolher os enfeites, fazer o mural de pedidos para a noite de Natal, as guloseimas que serão servidas e o principal que é a lista de convidados.
Gosto que seja bem no início de novembro, assim fico mais tempo em clima natalino.
Há uns oito anos que desejava fazer uma árvore com borboletas, mas não as encontrava.
Mas não desisti da idéia e finalmente esse ano consegui realizar meu sonho.
Coloridas , corpo frágil, asas brilhantes , diurnas, as borboletas prenunciam acontecimentos alegres ,são símbolos de liberdade, de alegria, de imaginação, de autonomia,
São fugidias, voam para onde querem, sem avisar que vão levantar voo.
São leves, risonhas e felizes, assim como deveriam ser as pessoas.
Para os chineses e japoneses, as borboletas junto às flores são sinônimo de felicidade.
Irresistivelmente atraídas pela luz,como a alma também é pela verdade divina, elas são símbolo da busca da verdade.
Talvez por terem tão pouco tempo de vida sejam tão alegres e bonitas.
Minha árvore de Natal esse ano está mais alegre, colorida e brilhante.
No topo da árvore pousei uma borboleta grande para simbolizar o amor , que é a coisa mais importante em nossas vidas.

Nana Pereira

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O funeral da boneca












Na noite anterior, várias flores damas da noite haviam perfumado os canteiros ao redor da casa, o cheiro adocicado ainda permanecia no quintal naquela tarde.
Num canto , perto do jardim, sentei para brincar com minhas bonecas de papelão.
Naquele tempo existiam bonecas de papelão que enfeitavam as garrrafas de refrigerantes nas mesas de aniversário e tão logo a festa acabava, rapidamente eu as recolhia para brincar.
Era uma daquelas tardes quentes de mormaço em que qualquer esforço mínimo era simplesmente insuportável.Sentei-me à sombra com minhas bonecas de papelão e reparei que uma delas estava com o pescoço por um fio.
Menos uma, pensei!
Foi aí que tive a idéia de dar-lhe um funeral digno, com velas, rezas e até lágrimas.
Pobre bonequinha, tão jovem!
Deitei-a sobre a tampa de uma caixa de sapatos e munida de duas velas brancas e uma caixa de fósforos, dei início ao funeral.
Lembro-me de cantar baixinho a música "O pequenino grão de areia", acho que era porque toda vez que ouvia esta música eu chorava .
E não foi diferente daquela vez.
Cantei toda a música enquanto acendia as velas ao lado do "corpo" inerte da boneca .
O perfume doce das flores, o cheiro da parafina das velas queimando, a música triste e a reza faziam do funeral um momento solene.
Enquanto as velas ardiam ao lado do corpo da boneca, comecei a cavar o local onde a enterraria .
Tudo muito solene e respeitoso!
De repente, o portão se abre e entra meu pai com aquela cara de poucos amigos !
Rapidamente, ele percebe as velas acesas e as apaga rispidamente dando-me um safanão.
Senti uma mistura de tristeza e raiva por sua incompreensão .
Em silêncio , terminei o funeral da boneca sem nem mesmo o final da reza.
Depois daquela tarde, nunca mais brinquei com as bonecas de papelão...

Nana Pereira

sábado, 8 de novembro de 2008

O dia que assaltei um pé de hibiscos




















Vocês irão pensar: "O mundo está perdido"! Até tu Brutus?
Eu sei que o que fiz não foi politicamente correto, mas foi mais forte do que eu!
Ajoelho-me e peço perdão, mas não estou arrependida!
Hoje está um lindo dia e saí para passear com minha fiel escudeira Baby Xuxuzinho ( minha pinscher saltitante), como estou com o joelho esquerdo avariado devido a uma batida na quina da cama, fomos caminhando bem devagar!
A Baby, lépida e saltitante e eu, meiga e manquitolando!
Descobri vários pés de hibiscos por todo o caminho!
De quase todas as cores: rosas, brancos e vermelhos. Só não vi amarelos!
Um forte impulso tomou conta de meu ser!
Pensei com meus botões:
- Preciso "afanar" um galho da árvore, quem sabe não brota?
Meu lado meigo gritava no meu ouvido:
"Que coisa feia, vai ter coragem de surrupiar um galho do arbusto?
Sem pensar muito, "assaltei" o arbusto de hibiscos vermelhos.
Foi até fácil, olhei para os lados e ninguém parecia estar olhando!
Só não consegui afanar dos outros porque eram altos e eu teria que pular!
Meu joelho não está muito bem, então resignei-me e fiquei só com o galho do hibisco vermelho.
Já sei o que vão pensar:
- Fez da cachorrinha sua cúmplice!
Mas, tenho uma atenuante: não foi um crime premeditado!
Saí apenas para passear!
Além do mais , sou ré primária!
Vou arrumar uma amiga advogada!
Já estou premeditando assaltar o hibisco cor-de-rosa!
Agora que já sou uma assaltante experiente, usarei luvas para não deixar minhas impressões digitais!
Estou até pensando em assaltar o Manacá perfumado que tem lá no Café que costumo comer minha torta de limão!
É......................., o mundo está perdido!

By Nana Pereira

É preciso amar as pequenas coisas


















" É preciso enxergar as pequenas coisas, como plantar roseiras sem pensar em colher as rosas.
Hoje plantei rosas para colher seu perfume quando florescerem, para sentir mais de perto a beleza da natureza.
É preciso cuidar das roseiras com muita delicadeza, cortar as flores murchas para canalizar a energia para os novos rebentos.
No Inverno, protegê-las da geada e do frio e depois esperar que dêem as flores mais belas do jardim, que irradiem beleza, perfumem, e nos tornem felizes.
Sinto um prazer indescritível quando descubro um novo botão surgir ou uma folha novinha que acabou de nascer.
Chamo-os de meus bebês!
Que coisa magnífica , meus olhos poderem contemplar as flores do meu jardim, enquanto um senhor toca flauta na praça aqui em frente de casa.
Hoje , plantei minhas novas roseiras ao som da quinta sinfonia de Beethoven, e acreditem, não existe coisa mais linda na vida!
Sento-me no chão com meu equipamento de jardinagem e minha cachorrinha no colo.
Enquanto coloco a terra , o adubo e planto, ela fica deitada no meu colo só observando!
Talvez se eu não fosse sonhadora, fosse jardineira!

Nana Pereira

Para ser feliz!

























Há pessoas que pensam que para serem felizes , precisam ter muitas coisas materiais!
Sou do tipo que fica feliz com pequenas coisas.
houve uma época em que precisei morar em um quarto e sala com minhas duas filhas.
O apartamento era bem bonitinho, mas era muito pequeno!
No quarto havia apenas um beliche, uma escrivaninha para as meninas estudarem e um guarda-roupas.
Uma vez uma amiga me disse:" Não entendo você, compra lingeries lindas para dormir sozinha e ainda por cima nem tem uma cama!"
Não cabia uma cama para mim, por isso eu dormia em um colchonete.
Vocês vão pensar : Coitada, não tinha cama !
Não sintam pena!
Eu acampava todos os dias , e nos fins de semana ganhava café na cama e fazia piquenique com as crianças.
Tomava banho de porta aberta quando chegava do trabalho para ouvir minha filha tocar minhas músicas preferidas no órgão!
Haviam relógios por toda a casa.
Acho que eram para nos lembrar de como a vida passa rápido e que temos que aproveitar o máximo os momentos felizes!
Acho que quando Deus criou-me, deu-me uma alma alegre e simples!
E depois, quando cresci, deu-me duas lindas filhas que são a minha paixão!
By Nana Pereira

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Manhã de primavera




















Que canto é este que invade meu quarto e atrapalha meu sono logo cedo?
O dia mal acabou de nascer e a cantoria já anda à solta.
Será o canário do vizinho triste que só usa camisas escuras e bate a porta do elevador?
Será o curió que fez seu ninho bem na torre da igreja, sem alvará ou contrato de aluguel?
Ou será que é um sabiá-laranjeira alardeando a chegada da primavera?
O jardim já está florido, a romanzeira não se aguenta de tanta flor. Um sanhaço passeia displicentemente na grade do jardim, observa os vasos de flores e vez ou outra sorve uns goles de água dos bebedouros.
O céu está bem azul, o sol brincalhão bafeja sobre os prédios. No cavalete, um quadro de cerejeiras inacabado, um tubo de tinta vazio, um pincel caído no chão.
O celular avisa que chegou mensagem. Sinto o coração bater mais rápido, sento na beira da cama , prendo os cabelos e vou em direção à cozinha.
Minha cachorrinha segue-me toda alegre esperando meu carinho e sua ração, é claro.
Preparo meu café, cantarolo um trecho da música que toquei ontem no concerto enquanto passo geléia nas torradas.
Sinto saudade da minha caçadora de joaninhas...

Nana Pereira

A sagração da primavera






















É primavera nos trópicos!
Sons doces e sutis ecoam por toda a Terra!
Canários gorjeiam e trinam numa melodia única, suave e harmoniosa saudando o amanhecer.
Um sabiá-laranjeira , que é um dos melhores cantores do mundo, entoa seu canto nostálgico semelhante ao som de uma flauta.
Aves de colorido indescritível sobrevoam e pousam nos galhos das árvores floridas.
Flamboyans , acácias e ipês de todas as cores, estão carregados de flores!
Maravilha das maravilhas!
Que coisa mais bela de se admirar!
Os prados estão floridos, os beija-flores trissam enquanto sorvem o néctar das flores.
Quanta beleza, meu Deus!
As cigarras , no calor escaldante do meio-dia, entoam seu canto estridente
fretenindo, retinindo e chiando como loucas.
Borboletas coloridas ensaiam um balet em torno das margaridas, gérberas e bocas-de-leão.
A tarde cai e um rouxinol oculto pelas folhas de uma árvore, abre sua cauda e inicia uma extensa canção de longos trinados.
Por toda a parte ouve-se seu canto que se eleva nos ares . É uma sinfonia de doces trinados e tudo transforma-se em brilhantes correntes sonoras de uma beleza ímpar.
Uma revoada de andorinhas invade o céu anunciando o entardecer!
As primeiras estrelas despontam no céu e completam a beleza da criação!
Alguns pirilampos passeiam ,como pequenas lanternas iluminando a noite, grilos emitem um som nostálgico roçando uma asa contra a outra.
Gosto de fechar os olhos e sentir o suave perfume das flores, gosto dos pirilampos porque parecem estrelas que conseguimos alcançar.
Maravilha das maravilhas!

Nana Pereira

O realejo

























Estava sentada em um Café, (o mesmo de sempre), quando surgiu o homem do realejo!
Há muito não ouvia a música de um realejo!
Fiquei a sonhar... sonhar...
Mas, tive medo de tirar a sorte e o periquito me dizer para ser menos sonhadora!
Nana Pereira

domingo, 2 de novembro de 2008

Pássaros cativos























Sei que não é politicamente correto, mas já tive pássaros em gaiolas!
Sim, mantive uma saíra ,três canários , um coleirinha , dois calafates e dois manons em cárcere privado.
Sinto até um pouco de vergonha em confessar meu delito, mas estou tentando redimir-me .
Acho que era uma forma de sentir-me mais próxima da natureza, já que moro em apartamento e rodeada de prédios.
Mas, nem sempre foi assim, na infância morávamos em casa com quintal, pomar e jardim.
As cercas eram vivas, as borboletas e os pássaros estavam sempre rondando o quintal.
Durante as tardes de verão, sentava-me à sombra de um pé de tangerina, deliciava-me com a fruta enquanto os pássaros faziam folia nas árvores.
Hibiscos e lantanas eram flores comuns para mim.
Mas, voltando aos pássaros, contarei a história de cada um deles e espero que seja absolvida , ou que no mínimo minha pena seja atenuada.
O primeiro pássaro que mantive em cativeiro foi uma saíra. Para quem não conhece, é um pássaro lindo, colorido, não canta e é muito arisco.Acho que devo dizer que é esperto também, pois na primeira oportunidade que teve, fugiu enquanto eu trocava a água do seu bebedouro. Nem preciso dizer que fiquei arrasada com sua fuga.
Tive um coleirinha que cantava que era uma beleza! Lembro-me que numa de nossas férias de dezembro, deixamo-lo na casa de um conhecido e quando voltamos o pássaro havia sumido. Até hoje não sabemos o paradeiro dele. Tenho a impressão de que foi vendido pelo conhecido em questão.
Algum tempo depois, acompanhando uma amiga a uma loja de aves, fiquei encantada por um casal de calafates. Os calafates são pássaros coloridos e ativos , não cantam, mas tem um piadinho bonitinho.
Resolvi comprá-los! O vendedor disse que só poderia vender um porque o outro era cego de um olho.
Fiquei consternada com a sorte do pobrezinho e disse ao homem:
_ Mas eu quero os dois!
Ele olhou para mim com ar incrédulo e disse:
_ Bem, nesse caso, você compra um e o outro (o ceguinho) vai de brinde.
Dei-lhes o nome de Stevie e Sting. Nem sei se eram dois machos ou um casal, mas , Resolvi que o que não enxergava de um olho deveria chamar-se Stevie.
Sting foi o primeiro a morrer e alguns meses depois Stevie também partiu!
A esta altura, já estava sem coragem de ter novo pássaro em casa.
Passei uns bons anos sem querer ter pássaros !
Até que um dia.....
O primeiro canário que tive, era um tanto quanto esquisito : tinha uns ataques e caía do poleiro como se tivesse tido um ataque fulminante e partisse desta para melhor.Como eu tenho pavor de pegar em bicho morto, esperava minha empregada chegar para dar início ao funeral e com espanto via o "falecido" novamente no poleiro.Acho que ele teve uns cinco ataques desses e um dia morreu de verdade.
Passei anos sem querer saber de pássaros novamente, até que um dia ganhei de presente de uma amiga um canário amarelo.
Este foi o primeiro pássaro que dei nome. Batizei-o de Wófel.
ele era novinho e conforme orientação da minha amiga, dei-lhe toda atenção e cuidados.
Comprei uma gaiola gigante, vários bebedouros, banheira para banhos diários, alpiste com vitaminas, jiló, folhas de almeirão e sementes de pimentão.
O tempo passou e o dito cujo não cantava, só piava. Até pensei que fosse mudo!
Comprei um desses pássaros com pilha e pendurei perto da gaiola. Quem sabe ele não precisava de incentivo?
Numa das visitas de meu pai, contei-lhe meu infortúnio e ele (velho conhecedor de pássaros) disse-me que meu canário não cantaria nunca, era uma fêmea.
Consolei-me com a situação, mas mantive seu nome de Wófel. Há um ano que o chamávamos assim , não tive coragem de mudar seu nome. E se ele (a) tivesse uma crise de identidade?
Um dia, numa manhã de inverno, perto do dia dos namorados, Wófel amanheceu morto.
Fiquei tão triste, que no dia dos namorados, minha filha deu-me outro canário.
Desta vez, ela certificou-se de que era macho e que cantaria!
Wally era verde! (acho que tenho uma queda por nomes que comecem com W)
Nunca havia visto um canário verde, sempre achei que canários fossem amarelos, mas Wally era verde.
Um belo dia, meu pássaro amanheceu cantando. Fui despertada pelo seu canto!
Que coisa mais linda!
Comprei-lhe nova gaiola , daquelas com tripé. Parecia um castelo, era toda branca. Wally ganhou um lugar de destaque e cantava boa parte do dia.
Até que começou a apresentar um comportamento estranho: passou a cantar de madrugada. Parecia um louco, acordando toda a família e quiça os vizinhos.
Pensei que talvez fosse falta de uma namorada. Nunca saberei, pois um belo dia Wally foi para o céu dos passarinhos também.
Dois anos depois da morte do finado Wally, estava em uma loja comprando peixinhos para o aquário, quando vi um casalzinho de manons. Não cantavam, mas eram tão bonitinhos e simpáticos que não resisti e os trouxe comigo.
Batizei-os de Tito e Meiga!
Comprei até um balancinho azul para alegrar suas vidas. Os dois disputavam o balanço o dia inteiro, cheguei a pensar em comprar mais um balancinho para evitar discórdia entre o casal.
O chão da área de serviço vivia cheio de alpiste e tudo parecia que estava indo muito bem até que uma manhã Tito amanheceu morto, assim sem mais nem menos.Dois dias depois a Meiga foi ao encontro do seu par.
Acho que morreu de saudade, como esses casais de velhinhos que quando um falece o outro não aguenta de tanta nostalgia e vai logo em seguida.
Fui tomada de uma tristeza medonha, olhava a gaiola vazia e não acreditava !
Resolvi então, pintar a gaiola , enfeitá-la com flores e pássaros artificiais e colocar para enfeitar o jardim.

Nana Pereira

sábado, 1 de novembro de 2008

Ensinando com amor


























Minha paixão por ensinar vem desde que eu era bem menina!
Quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse , eu logo respondia:
- Quero ser escritora e professora!
Acho que naquele tempo, quase toda menina queria ser professora , e tão logo terminei o antigo ginásio, fiz uma espécie de vestibular para entrar na "Escola Normal Sara kubitschek ".
Nunca entendi porque davam o nome de "Escola Normal", ficava pensando se as outras escolas eram anormais!
No último ano do curso, as escolas estaduais do Rio de Janeiro estavam com carência de professores e as melhores alunas de magistério das escolas Sara kubitschek e Carmela Dutra, foram chamadas como estagiárias.
Foi assim que aos 17 anos ganhei o título de professora.
A escola era uma escola modelo, tudo era muito limpo, a diretora era temida por ser extremamente exigente, costumavam dizer que quando ela adentrava o portão da escola , todos tremiam.
Fui muito bem recebida e não tremi, tenho que confessar!
Foi empatia à primeira vista!
Minha classe era composta por crianças de 6 e 7 anos, a maioria com dificuldade de aprendizado.
Havia um regulamento a seguir e toda uma didática imposta pelo MEC.
Eram 25 crianças a serem alfabetizadas .
Nas primeiras semanas segui à risca o plano de aula que a mim fora designado, mas com o passar das semanas, fui acrescentando uns toques pessoais às aulas.
Minhas crianças sentavam-se no meu colo, ficávamos de mãos dadas, nos acariciávamos e algumas alunas até penteavam os meus longos cabelos lisos (o que acarretou em uma invasão de piolhos na minha cabeça).
Descobri que havia uma vitrolinha e discos de histórias e cantigas de roda na sala de material didático, então , pelo menos umas 2 vezes por semana ouvíamos histórias e acreditem, dançávamos na sala de aula.
Encostávamos as mesas e cadeiras na parede e a sala virava um salão de dança.
Os meninos dançavam com meninos e as meninas com as meninas e todos, sem exceção dançavam comigo.
Eram tardes extremamente alegres e no final, recolocávamos as mesas no lugar para não sermos descobertos.
As crianças adoravam ouvir as histórias , tínhamos a nossa história predileta que era "A formiguinha e a neve". Perdi a conta de quantas vezes a ouvimos e invariavelmente chorávamos na parte em que Deus mandava o sol para descongelar a formiguinha e a salvava da morte. Nesse momento nos abraçávamos com os olhos cheios de lágrimas e sentíamos mais próximos do criador.
Mas, era muito difícil para mim ficar presa dentro da sala de aula, foi então que pedi autorização à diretora para criar umas aulas de recreação ao ar livre.
A escola tinha um grande espaço de terra com plantas e árvores, que não era utilizado a não ser na época das festas juninas. Apresentei meu projeto e no dia seguinte ele já foi aprovado.
Passamos a descer por uma hora para passear , correr, fazer exercícios , descobrir insetos e brincar.Cada aluno trazia um short dentro da mochila e trocavam de roupa no banheiro.
O triste era que éramos a única turma com essa atividade, percebia os olhares de admiraçõa e porque não dizer de inveja das outras crianças.
Criamos uma mini biblioteca dentro da sala de aula e passávamos boa parte do tempo lendo e folheando os livros.
Viajávamos a cada história e depois as crianças desenhavam e davam sua interpretação para a história.
Em setembro, resolvi fazer uma exposição dentro da sala de aula sobre as quatro estações.
Dividi a turma em quatro grupos e cada um deu sua contribuição em desenhos, colagens e montagens.
Enviamos convites para as outras turmas virem nos visitar.
Acreditem, foi um sucesso! As crianças , cada qual com seu assunto, explicavam as singularidades de cada estação do ano.
Ainda lembro do orgulho que senti de cada um deles!
Recebi um cartão de agradecimento pelo belo trabalho da direção da escola e foi como se tivesse ganho um prêmio Nobel!

Hoje, tantos anos depois fico me perguntando como estará cada uma dessas crianças.
Sei que fiz a diferença na vida delas e agradeço a Deus por ter essa alma de criança livre e sonhadora até hoje.

Nana Pereira

domingo, 12 de outubro de 2008

Sinfonia inacabada





















Tenho que admitir que Deus me fez perfeita!
Não no sentido de só ter qualidades e não ter defeitos, mas no sentido de enxergar, ouvir, falar e andar.
Acordo todos os dias com uma sensação de felicidade e sou agradecida por ser saudável e estar viva, mas tenho que confessar que tenho um pequeno defeito de fabricação : - Um vazamento crônico!
Parece que tudo é motivo para uma torrente de lágrimas em minha vida.
Tudo é motivo para meus olhos transbordarem em lágrimas : se vou ao jardim molhar as plantas e descubro uma nova flor, se recebo um cartão junto de um vaso de flores em comemoração à entrada da primavera, se minha filha caçula vai ao shopping com o namorado e me liga perguntando que sabor de bolo eu prefiro que ela me traga.
Fico me perguntando se este vazamento é normal.
Quando estou na igreja e o coral canta a "Lacrimosa" de Mozart, é inevitável a enxurrada de lágrimas que invade meu rosto sem pedir permissão.
Ás vezes estou arrumando uma gaveta e lá encontro um bilhetinho de uma de minhas filhas , emociono-me de uma tal maneira, que fica até impossível terminar de ler sem que meu óculos fique todo embaçado e o meu nariz fique parecendo um narizinho de palhaço.
E o engraçado é que conforme o tempo passa, o tal vazamento piora, aparece com mais frequência e intensidade.
Ultimamente, durante os ensaios da orquestra e mesmo nos concertos, tenho passado maus bocados com esse vazamento impertinente.
Fizemos recentemente um concerto na Loja Maçônica de São Paulo e fui presenteada com a presença de duas amigas e da minha filha caçula ( ela sempre comparece quando pode).
Antes de começarmos a tocar uma das peças, olhei para a platéia e meus olhos encontraram-se com os de minha filha, ela sorriu e fez um desenho em forma de coração com as mãos.
Pronto!
Foi o suficiente para que meus olhos se enchessem de lágrimas !
O espantoso é que nem tem sido com Mozart ou Beethoven,pode ser com qualquer um que toque meu coração. Nos últimos tempos tem sido com Schubert, para ser mais exata, com a sinfonia inacabada.
Não sei que analogia meu cérebro (ou coração) faz com esta sinfonia e minha primogênita.
É alguma coisa inexplicável!
Talvez por ela nunca ter ido assistir um concerto meu ou talvez por ter casado e levado ao pé da letra o versículo do Gênesis que diz "Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher..."
Não há um concerto sequer em que durante as pausas da música, meus olhos não procurem insistentemente por uns olhos de "peixinhos de aquário"!
Quase não nos vemos, pouco sei de sua nova vida, a não ser pelo seu blog.
Entro como uma espiã para saber algumas novidades do seu dia a dia, se está feliz, cansada,resfriada , animada ou triste.
Às vezes descubro pequenas coisas que gostaria que compartilhássemos , coisas bobinhas como a compra de um novo vaso de flores, ou uma não tão boba como sua viagem de férias.
O incrível é que Schubert me faz sentir uma saudade imensa da "minha caçadora de joaninhas" com olhos de peixinhos de aquário, e nem sei explicar o porquê!
Acho que na realidade, nossa vida é como uma sinfonia inacabada, ela só termina quando fechamos os olhos e partimos rumo à eternidade.

Nana Pereira

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Manhã de primavera






































Que canto é este que invade meu quarto e atrapalha meu sono logo cedo?
O dia mal acabou de nascer e a cantoria já anda à solta.
Será o canário do vizinho triste que só usa camisas escuras e bate a porta do elevador?
Será o curió que fez seu ninho bem na torre da igreja, sem alvará ou contrato de aluguel?
Ou será que é um sabiá-laranjeira alardeando a chegada da primavera?
O jardim já está florido, a romanzeira não se aguenta de tanta flor. Um sanhaço passeia displicentemente na grade do jardim, observa os vasos de flores e vez ou outra sorve uns goles de água dos bebedouros.
O céu está bem azul, o sol brincalhão bafeja sobre os prédios. No cavalete, um quadro de cerejeiras inacabado, um tubo de tinta vazio, um pincel caído no chão.
O celular avisa que chegou mensagem. Sinto o coração bater mais rápido, sento na beira da cama , prendo os cabelos e vou em direção à cozinha.
Minha cachorrinha segue-me toda alegre esperando meu carinho e sua ração, é claro.
Preparo meu café, cantarolo um trecho da música que toquei ontem no concerto enquanto passo geléia nas torradas.
Sinto saudade da minha caçadora de joaninhas...

Nana Pereira

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Rosh Hashaná

Hoje, a comunidade judaica de todo o mundo, comemora o Rosh Hashaná ( o ano novo judaico).





O ano novo judaico celebra a criação do mundo.

É época de reavaliação da qualidade do nosso relacionamento com Deus. Quando moisés intercedeu em favor dos hebreus ( por terem cometido idolatria) o povo ouviu ressoar o shofar , que anunciava a presença de Deus.




E para encanto de meus olhos , um novo hibisco cor-de-rosa do meu jardim, floresceu hoje, como que para comemorar a criação do mundo!































Que toda a humanidade possa comemorar com paz todos os dias de sua vida.


SHALOM!

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Enfim, dia dos pais

























Eu tinha o costume de dizer que era uma mãe bombril, com mil utilidades
Era uma forma alegre de executar funções que não eram minhas.
Algumas vezes, senti-me sobrecarregada, mas nunca infeliz!
Aprendemos a bordar juntas, a fazer biscoitinhos, a ser feliz com o que tínhamos.
Sempre fui uma feroz defensora da importância da educação em nossa vida e vivia à espreita de novos livros de histórias, contos e tínhamos até uma noite de sarau.
Líamos em voz alta enquanto desenhávamos, todas as quintas-feiras.
Fernando Sabino e Guy de Maupassant estavam sempre muito presentes em nossas vidas.
Achava que a vida precisava de poesia e música, e num ato de extrema bravura financeira, comprei nosso primeiro órgão.
Ainda guardo no coração as músicas que eram tocadas especialmente para mim.
A casa se enchia de luz, alegria sem fim. Sentia-me a mãe mais sortuda do mundo.
Corri muitas vezes, para assistir as apresentações musicais, as festas anuais do colégio, mas as que ficaram marcadas foram as de cada formatura.
Persegui bolsas de estudo durante anos, descontos e vagas no curso de inglês, nas aulas de música, nas aulas de dança.
Acho que eu era uma maratonista incansável.
Nunca tive a intenção de fazer um papel que não fosse o meu, mas algumas vezes foi necessário.
Durante muitos anos recebi presentes no dia dos pais, dia dos namorados, dia das mães ,dia das crianças, além daqueles de Natal e de aniversário.
Todavia, o melhor presente foi ter minhas duas filhas.
Hoje é dia dos pais, só queria dizer da minha alegria de ainda ter um pai e sentir muito pelos pais que não aproveitam sua paternidade e a vivem plenamente.

Nana Pereira

Nada é impossível




















Nunca diga que algo é impossível...
As coisas são no máximo improváveis.
Mas nunca impossíveis!

Durante muito tempo, sobre um móvel de mogno da sala de jantar, ele manteve-se em profundo e tenebroso silêncio.
Tinha como companheiros alguns porta-retratos da família e os raios de sol que entravam pela janela semi-aberta durante as manhãs
Chegou-se a pensar que era um preguiçoso, pois que não saia de dentro daquele estojo de couro preto.
Lembro-me das vezes que levantei o estojo para limpar a poeira que acumulava-se , suspirava com tristeza e pensava na triste existência dele.
Passaram-se muitos anos, até que um dia tomei coragem e abri o estojo, libertando-o de sua solidão!
Decididamente, um violino não foi feito para ficar em silêncio!
Até tentei tirar algum som, um gemido que fosse, mas ele manteve-se calado. Não sei se por medo, vergonha ou por incapacidade.
Encontrei um professor e passei a frequentar aulas semanais com mais três aprendizes.
Tenho que confessar, até com certa vergonha, que algumas vezes tive vontade de bater no professor com o violino e sair correndo.
Por muitas semanas voltei para a casa com aquela sensação de cansaço, de dever não cumprido.
Lembrei das aulas de piano que tive quando criança e da professora batendo na minha mão contra o teclado e pensava :
- Minha avó materna era sobrinha neta de Puccini. Não é possível que eu não consiga tocar pelo menos uma música neste violino.É questão de genética e de um pouco de teimosia!
Certa vez perguntaram-me porque eu queria aprender a tocar violino. Por satisfação pessoal? Para Impressionar seu namorado.,amigos ou familiares?
Respondi rindo ,que era porque era teimosa, e além do mais, as partituras de violino eram todas na clave de sol.
Alguns meses depois, comecei a fazer algum progresso, já sabia o nome das quatro cordas e sabia passar breu como ninguém no arco. Além disso,assim que a aula terminava, em questão de segundos, meu violino já estava devidamente confinado no estojo e eu, pronta para ir embora.
Ao final do semestre, pedi para o professor fazer uma partitura facilitada de Sous le ciel de Paris
para eu tocar na apresentação do final do ano.
Sabem, é minha música favorita e foi com muita alegria que a toquei junto com meus companheiros de aula. Algum tempo depois, começamos a formar uma orquestra e outros instrumentos foram aliando-se ao grupo. Meu violino é um instrumento básico para estudantes, um desses Cremona made in China, todavia, não sei explicar como o arco que veio junto é um arco John Brasil , considerado um dos melhores. Há dois anos troquei as crinas do arco por crinas da Mongólia e acreditem, fez toda a diferença.
Hoje,seis anos depois, somos uma orquestra de verdade , composta por 50 músicos e fazemos apresentações em Teatros, tocamos em alguns casamentos e nos cultos da Igreja Presbiteriana de São Paulo. Aprendi a ter outra visão de mundo, a ser mais disciplinada , mais culta e a ter mais entusiasmo pela vida, . Pesquiso sobre os grandes compositores e a música clássica passou a fazer parte do meu dia à dia.
É uma coisa impressionante! Todos nós sabemos muito bem quais são as nossas qualidades e que temos um conjunto de características típicas que nos fazem ser especiais, únicas. Basta abrirmos os olhos e nos darmos o devido valor, nos respeitando e respeitando nossa natureza.

Nana Pereira

A casa da vovó



















Era a casa mais bonita do bairro.
Pelo menos era o que eu pensava quando era criança.Os muros eram revestidos de pedras São tomé, haviam dois portões pretos , metade fechado e a outra metade em grade. O portão social tinha uma caixa para correio. O engraçado é que este portão não era usado, usávamos o portão da garagem que vivia apenas encostado.Na entrada havia um caramanchão de alamandas amarelas, o chão vivia cheio de pétalas , como se fosse um tapete para receber minhas visitas.Era realmente bonito de se ver. Bem na frente da casa ficava um lago com chafariz .No centro , um enorme sapo verde de louça espirrava água da boca.Dizem que o sapo evoca sorte, evolução, humor e transformação. Diz-se que ao coaxar, o sapo coloca seu coração em sintonia com o céu, solicitando diretamente as dádivas desejadas.Talvez seja por isso que meus avós tenham sido tão felizes. Nas tardes de verão, eu sentava à beira do lago e sem que ninguém visse, colocava os dois pés dentro do lago. Acho que a idéia era de colocar peixes no lago, mas ele nunca foi habitado, a não ser pelos meus pés. A varanda tinha pilastras de mármore branco. Lembro-me do vovô recostado numa das pilastras lendo a Bíblia logo após o almoço.Ele gostava de fazer anotações dos versículos em um caderno espiral .Após a leitura, ele fazia a siesta. Acho que ele sabia a Bíblia de frente para trás.
A varanda era a parte da casa que eu mais gostava, era fresquinha, tinha belas cadeiras brancas com almofadas floridas, uma mesa com tampo de vidroe vasos de flores. As cadeiras eram bonitas, mas eu gostava mesmo era de deitar no chão.Deitava-me para observar e vigiar as formigas que subiam pelas paredes.Incansáveis, em fila indiana, percorriam toda a varanda, até a janela do quarto da vovó. No parapeito haviam vasos de gerânios coloridos.
Acho que as formigas escalavam a parede apenas para ver de perto as flores.
Muitas vezes adormeci enquanto observava a vida das formigas.

Canário verde!























Sempre pensei que canários fossem sempre amarelos!
Wally era verde!
Wally chegou em casa no dia dos namorados,
Logo ganhou uma casa espaçosa e ventilada.
As manhãs eram anunciadas pelo seu canto.
Devia sentir falta de uma namorada.
Um dia enlouqueceu e passou a cantar à noite também.
Acho que morreu de solidão!
By Nana Pereira

Meus pés!




















Só fui descobrir que meus pés eram pequenos quando ainda era casada com meu primeiro marido!
O casamento estava um horror e sugeri fazermos uns encontros de casal na igreja!
Durante o primeiro e único encontro , havia uma brincadeira em que as mulheres tiravam os sapatos e os maridos teriam que descobrir suas mulheres pelos pés!
Quando vi os pés das outras, senti-me desconfortável,
Senti-me como a Amélia da história A Pata da Gazela de José de Alencar!
Ele foi o primeiro e único a apontar os pés de sua mulher.
Não resta dúvida de que é bem bonitinho e delicado, já que meço 1,70 e calço sapatos de número 35, todavia , esta belezinha me faz levar tombos bem embaraçosos nas rua, em lojas, na orquestra!
Mas, não estou reclamando!
AH! O casamento foi para o brejo, mas os pés continuam aqui!
Eles são uma de minhas marcas registradas!!
By Nana Pereira

Doce de laranjas!























Adoro doces, mas o meu predileto é o doce de laranjas da mamys!
A receita é de família!
Vou contar o segredo:
O doce é feito à quatro mãos!
As laranjas são colhidas no quintal!
Quem descasca as laranjas e retira o miolo é o papai!
Quando fica cansado, faz uma pausa e sapeca uns beijos na mamys.
Depois as laranjas são colocadas de molho para perder o amargo.
Que doce bom, meu Deus!!
Na calda, um suave sabor de cravos, dão o toque final!
O doce é colocado em compotas na geladeira,
Ficam esperando minha visita para serem comidos!
Que doce bom, meu Deus!
Doce de laranja feliz!
Mais feliz sou eu, que posso prová-lo!
Feliz sou eu, que posso comer doce de laranjas feito à quatro mãos!
By Nana Pereira

Amor à primeira vista!!

















Tudo começou em fevereiro de 2006
Fomos para o Rio de Janeiro de carro no feriado de carnaval!
Meus pais moram em um pequeno sítio perto da represa do rio Guandu.
É um lugar maravilhoso, com muito verde, flores, um pomar e vários animais soltos pelo quintal.
A viagem foi tranquila, o que eu não sabia era que minha vida mudaria para sempre a partir daí.
Assim que chegamos no sítio, meus olhos avistaram a coisa marrom mais linda que já haviam visto:
- Uma coisinha muito delicada, andando displicentemente pelo quintal!
Um filhote de pinscher que mais parecia um brinquedinho de pelúcia!
Apaixonei-me imediatamente e acho que a recíproca também foi verdadeira!
Ela tinha 2 meses e tinham lhe batizado como Bia Falcão ( personagem de uma novela, eu acho!).
Era a queridinha do meu pai!
Não nos largamos o feriado inteiro.
No dia de vir embora,criei coragem e disse ao meu pai:
- Pai, dá essa coisinha linda para mim?
Sei que deve ter sido difícil para ele , mas com todo amor , papai me deu a cachorrinha mais cara de pau e saltitante que conheço!
Batizei-lhe de Baby Xuxuzinho e assim que chegamos em casa, dei-lhe um porquinho de pelúcia cor-de-rosa para brincar!
Aproveitei e batizei também o porquinho com o nome de Beethoven, que hoje não é mais do que uma pelanca de pelúcia sem recheio!
Comprei-lhe uma caminha confortável, brinquedinhos, ração apropriada a sua idade e tamanho e xampu para banho.
Ainda hoje, ela continua saltitante e pequena, faz o maior sucesso quando saimos à rua.
É impossível não se encantarem com minha pequena Babynha!
Apesar de ter comido todas as minhas sandálias e ter destruído os dois sofás da sala, não consigo mais viver sem ela!
Coisas do amor!!

By Nana Pereira

A primeira Alice da família!














Meu avô se chamava João, e era um homem bom!
Nunca vi meu avô triste ou irritado.
Gostava de colocar apelido nas pessoas e era apaixonado pela vovó!
Lembro-me dele sentado na frente da TV e a vovó fazendo coceirinha nas costas dele,
Lembro-me dele contando a história de como fugiu da escola para não apanhar mais de palmatória.
Vovó saía para a ginástica e ele fazia a comida, e lavava a louça antes dela chegar.
Todos os dias depois do almoço, ele sentava na varanda para ler a Bíblia e fazer suas anotações com letras ininteligíveis. Acho que só ele sabia o que havia escrito.
Aos domingos, pegava a lista da feira que a vovó fazia , colocava dentro da Bíblia e ia para o culto.
Quando cresci e mudei para São Paulo,sempre que alguma coisa me afligia,telefonava e pedia que ele orasse por mim, parece que Deus atendia mais rápido, tal a fé dele.
Com a velhice, seu problema de surdez agravou-se, foi ficando cada vez mais surdo.
Foi nesta época que o apelidaram de Alice.
A família estava em guerra, o mundo cheio de violência, mas como era surdo não ouvia nada.
Quando ele despontava na esquina, meus primos já avisavam: Alice está chegando!!
Viveu feliz até os 98 anos.
By Nana Pereira

O Bom dia de Deus!
















Hoje tive uma manhã magnífica!
Acordei às 7h ,( como todos os sábados) para ir ao ensaio da orquestra!
Quase sempre vou de jeans e tênis ,( um tênis velho de guerra)já que tenho que andar por meia hora "arrastando o violino"!
Quando desci, na porta do prédio havia uma senhora bonitinha, de saia meio esverdeada, uma blusinha branca comportada e uma corrente comprida com um crucifixo!
Ela me deu bom dia e perguntou se era um violino o que eu carregava. Respondi que sim!
Ela perguntou logo em seguida se eu era católica!
Respondi que não, que sou protestante!
Conversamos mais um pouco e então é que ela me disse que era freira da Santa Casa de Misericórdia e que chamava-se irmão Cristiane.
Nos despedimos com beijos!
Andei mais uns 200m e um rapaz judeu usando "kipá" me deu um caloroso bom dia!
Respondi sorrindo seu bom dia com um "shalom"!!
Adoro as manhãs de sábado!
Mais uns 100m e um rapaz olhou para mim, deu bom dia e já começou a falar de sua paixão por música e que sua frustração era não saber tocar violino!
O rapaz era gay!
Nos despedimos e aí fiquei a pensar em como Deus nos dá bom dia todos os dias, através das pessoas!
Não importa a religião, a cor, a opção sexual, todos nós somos seus filhos e convivemos ou deveríamos conviver com amor e alegria!
São nesses momentos que sinto a presença Dele em minha vida:
Nas pequenas demonstrações de amor de nossos semelhantes!
By Nana Pereira

Alectorofobia!
































Alectorofobia?
Que raio é isso?
Descobri no ano passado, que sou uma Alectorofóbica!
Tenho pavor de galinhas!
A coisa é séria, eu saio do ar!!
Quando eu era pequena, havia um Galo grandão que ficava na esquina de prontidão!
Minha maior tortura era quando minha mãe pedia para que eu fosse à padaria...
O meliante assim que me via , começava a me cercar e eu esperava um descuido dele e saía correndo!
Ele corria atrás de mim como se fosse um cachorro!
Eu chegava na padaria arfando e apavorada!
Acho que nunca falei para minha mãe o porquê de detestar ir à padaria.
Uma vez, conversando com o marido de uma amiga, contei sobre esse meu medo.
Ele muito sério me disse: Talvez em outra vida você tenha sido uma minhoca e uma galinha te comeu!!
Então pensei: "Como será a vida de uma minhoca?!"
By Nana Pereira

O dia que o Juquinha morreu!






















Juquinha era o boneco predileto de minha filha caçula!
Um bonequinho todo amarelo de bonezinho, com uma carinha de travesso!
Ela não dormia sem ele, e andava arrastando o coitado pela casa durante o dia!
Certa vez, ela estava no jardim de infância, tive a brilhante idéia de fazer uma super faxina no quarto delas, coloquei colchas novas nas camas, arrumei as prateleiras cheias de bonecos e bichinhos de pelúcia e resolvi pendurar na parede um palhaço (que era da minha filha mais velha) e o Juquinha!
Toda contente com o resultado da arrumação, lá fui eu buscá-la na escolinha!!
Quando ela chegou em casa e viu o Juquinha pendurado na parede, começou a chorar, chorar, chorar....
Nunca entendi o porque de tanto choro.
Nunca mais ela brincou nem dormiu com o boneco!
Anos mais tarde, ela confessou-me que para ela , naquele dia eu havia matado o Juquinha!
Senti-me a pior das criaturas!
Moral da história: Nunca pendurem um boneco na parede!
By Nana Pereira

Cajueiro mágico



















Quase todo mundo tem recordação de um cajueiro da infância!!
A minha recordação é mais recente!
Eu já morava em São Paulo e quando ia de férias para a casa dos meus pais foi que descobri o cajueiro!
Eles moram em um sítio e o cajueiro ficava em cima do morro.
Todos os dias pela manhã eu levantava e pegava uma cestinha e ia colher cajus!
O Cajueiro estava lotado de cajus!
Enchia a cestinha e descia o morro toda feliz!
Que delícia tomar suco de caju feitinho na hora!
No dia seguinte, lá ia eu de novo com a cestinha, e pasmem, ele estava lotado novamente de cajus!
Todos os dias eu tinha certeza de que havia pegado todos os cajus, mas no dia seguinte lá estavam , prontos para serem colhidos!
Acho que havia alguma coisa de mágico e inexplicável!
Nunca entendi!
Hoje quando vou visitar meus pais, sinto saudade do cajueiro, que foi sacificado por uma piscina!
Todavia, ainda sinto o perfume dos cajus quando sento-me à beira da piscina durante as noites de verão!
By Nana Pereira

Um dia de Paganini!




























Ano passado, no concerto do Teatro São Pedro aconteceu um incidente (ou terá sido acidente?) que me fez lembrar o grande Paganini!
Estávamos no meio do concerto, preparávamo-nos para tocar Tannhaüser de Wagner, quando meu violino simplesmente caiu no chão,!
Imediatamente apanhei a "criatura" do chão e como se nada tivesse acontecido , voltei a tocar!!
Na saída do concerto, um amigo perguntou-me : Foi seu violino que caiu, não foi?
Ele não havia visto, só ouvido o ruído trágico!
Surpresa, respondi: Foi sim, como você sabe?
Nem preciso contar a resposta dele, né?
Sou um pouco atrapalhada!!
Acho que deveria ser parente de Paganini e não de Puccini!!
By Nana Pereira

Dentro da bolsa, uma arma...



























Sei que sou impulsiva e que tenho pavio curto,
mas certas coisas me tiram do sério.
Hoje saí com uma amiga e entramos num Banco Santander.
Tirei o celular e as chaves e coloquei na caixinha da porta.
Tentei entrar e o alarme disparou,
o guarda pediu que eu colocasse os metais na caixa,
Tirei porta-moedas, guarda-chuva e tentei novamente passar.
Novamente o alarme disparou.
Já irritada, tirei brincos e anel
Nem assim consegui passar pela porta
Já estava me sentindo uma fora da lei
O guardinha, por sinal bem antipático, mandou que eu deixasse a bolsa inteira no guarda-volumes se quisesse entrar.
Aí meu sangue espanhol falou mais alto,
Neguei-me a deixar minha bolsa e entrar com carteira e documentos na mão.
Tive vontade de tirar o sutien , talvez fosse o gancho da lingerie, sei lá
Mas, lembrei-me que não estava usando.
São estas coisas que me irritam, estes critérios que usam para decidir quem tem cara de bandido.
Penso que devo ter cara de assaltante de Banco,
caso contrário, o guardinha antipático teria liberado minha entrada no Banco.
O mais incrível é que os assaltantes nem bolsa usam, e entram com escopetas, "trezoitão" e metralhadora, e nessas horas o "grande" guardinha faz até xixi na calça!
Será que está havendo alguma coisa de errada com o mundo ou eu é que deveria ter sangue de barata?
By Nana Pereira

O chato de galochas


























É muito chato dia com chuva, mas tem lá seu lado pitoresco!
Hoje por exemplo, vi uma mulher usando galochas no Banco.
Lembrei que quando eu era criança, tive uma galocha amarelinha, eram uns sapatos de borracha que se punham por cima dos calçados normais para se sair na chuva.
Não lembro de usá-la para sair de casa, mas sim para ajudar a mamãe a lavar o quintal.
A fila no Banco estava grande, então aproveitei para "viajar" com a galocha!
Veio-me à cabeça a expressão "Chato de galochas".
Antes de mais nada, tenho que dizer que sou inocente, não fui eu quem criou esta expressão!
Será que o "Chato de galochas" era assim chamado porque entrava na casa da gente sem tirar a galocha e molhava tudo?
Ou será que era porque possibilitava ao chato chegar de mansinho, sem fazer barulho, impedindo a dispersão daqueles que obviamente queriam evitá-lo?
Há ainda uma hipótese de que a expressão tenha vindo da habilidade de reforçar o calçado. Ou seja, o chato de galocha seria um chato resistente e insistente.
Mas, por que será que um chato de galochas é mais chato que um cara sem galochas?
Qual seria o poder da chatice da galocha?
Particularmente , acho que um sujeito já nasce chato independentemente de ter ou não ter galochas.
Chatos de galochas são , na minha modesta opinião, aquelas pessoas politicamente corretas, que lutam contra a extinção das baleias e dos micos dourados, contra a devastação da selva amazônica , contra os gases poluentes que ameaçam a camada de ozônio, aquele sujeito que começa uma conversa no Messenger e pergunta logo de cara nossa idade, sem se importarem com seus semelhantes de fato.
Chegam a abusar do direito de serem chatos.
Enfim, a fila andou, fiz meu depósito no Banco e deixo para vocês avaliarem o que significa"Chato de galochas"!
By Nana Pereira

Serial killer


























Parece brincadeira, mas só este ano já comprei uns OITO mouses!
Está certo que não entendo muito de computadores, mas oito mouses é um número bastante significativo.
Sempre tenho que voltar à loja para trocar o meliante. Uma hora o botão da rolagem de tela não funciona, outra hora é o tipo de conexão que comprei errado.
O pior de tudo é que eles não funcionam mais do que 2 meses.
Estou sentindo-me uma Serial killer.
hoje quis dar uma de esperta e comprei um mouse preto, quem sabe o pretinho básico não me traria mais sorte?
Ledo engano, o meliante sequer deu sinal de vida!
Um amigo meu, disse-me que meu PC é à lenha, eu digo que é do tempo de Beethoven.
Coitado do Beethoven, ele teria enlouquecido e se jogado com piano e tudo pela janela, se tivesse o mesmo problema que eu.
Como não sou Beethoven e não quero estressar-me, amanhã voltarei à loja e trocarei por um mouse gelo.
Já sei que o homem da loja vai me olhar com um risinho maroto, mas fazer o que, né?
BY Nana Pereira

A trágica morte de Beethoven
















Beethoven era um lindo porquinho de pelúcia cor-de-rosa!
Vivia calmo e tranquilo em uma prateleira empoeirada.
Até que um dia, por volta de janeiro de 2005, um novo membro da família chegou .
Era uma pinscher marronzinha de nome Baby Xuxuzinho, muito pequenininha e frágil.
Como Babynha tinha apenas 2 meses e tinha deixado mãe e irmãos no Rio de Janeiro, Beethoven foi retirado da prateleira e virou seu amiguinho predileto e único.
Beethoven passou a frequentar todos os lugares da casa , carregado por sua amiguinha Baby.
Ele que só tomava banho a cada seis meses, passou a tomar banho toda semana, tal o estado deplorável que passou a ficar.
Era encontrado nos lugares mais inusitados , como por exemplo dentro da vasilha de ração deliciosa da Babynha.
Após um ano de aventuras , mordidas e "amassos", Beethoven perdeu todo o recheio e transformou-se em uma "pelanca " de pelúcia encardida.
Há um mês atrás, o pobre porquinho foi dividido em cabeça e tronco sem membros.
E ao som do segundo movimento da Sétima de Ludwig van Beethoven , decretei sua morte e com toda a pompa e circunstância foi "enterrado" na lata de lixo.
Dizem que sua alma foi encontrar-se com a alma do famoso compositor.
Vai se saber!!!!
By Nana Pereira

O sino da igreja


























Sair à rua sempre é uma aventura para mim, meus olhos vêem coisas que passam desapercebidas à maioria das pessoas.
Vejo pessoas tristes, mal humoradas, sem esperança e sinto-me tão sozinha!
Um homem de terno cinza esbarrou em mim e fez com que minhas partituras se espalhassem pelo chão. Nossos olhos se encontraram e ele ajudou-me a recolhê-las, pediu desculpas, sorriu e saiu apressado com sua pasta preta.
Fiquei olhando para ele até que desaparecesse de minha vista, e de repente alguém veio em minha lembrança.
Senti uma tristeza repentina e como sempre, meus olhos começaram a transbordar em lágrimas.
Não me importo mais que as pessoas me vejam chorando, aliás nem sei se vêem, estão sempre tão apressadas.
Sentei-me num banco ao lado da igreja, um ventinho de inverno despenteou meus cabelos, minhas mãos estão geladas, mas estou usando o anel que ele me deu.
Estou saindo de sua vida, e ele nem sabe. Talvez descubra quando eu já tiver partido!
Às vezes temos que sair da vida das pessoas , porque não suportamos não tê-las de fato!
O sino da igreja soou forte, acordando-me de meus pensamentos, é hora do almoço.
Um bem-te-vi cantou lá longe, uma criança de uniforme de escola deixou os cadernos cairem no chão, olho tudo sem entender que mundo é este em que alguém deixa um amor partir.
O sino parou de tocar, levanto-me e olho para o céu, na esperança de ver alguma estrela, ou algum sinal de que ele pensa em mim.
By Nana Pereira