sábado, 31 de janeiro de 2009

Lacrimosa



























“Lamparina”, obra de Vandeberg Medeiros






Fim do mundo é quando se perde a capacidade de sonhar e de ter esperança.
Nana Pereira




A seca era uma eterna ameaça na vida de Américo, um sertanejo calado , ensimesmado e cético.
Quando era criança, tinha esperança e sonho de que algum dia teria uma vida melhor, longe daquele lugar esquecido por Deus.
Costumava ir à igreja aos domingos com a mãe e os irmãos e lá ajoelhavam-se aos pés de uma imagem. Ficava imaginando como uma imagem atenderia seus pedidos .
Américo tinha talento com esculturas, era notável sua habilidade como artista. A madeira sem forma transformava-se em verdadeira obra de arte em suas mãos.
Gostavade esculpir ouvindo o único disco que possuía, havia ganhado do mágico de um circo que apareceu na cidade quando ainda era bem jovem.
O mágico ouvia Mozart enquanto esperava a hora de entrar em cena e Américo ficou hipnotizado com a Lacrimosa .
Vendo o encantamento que Mozart produziu no menino, o ilusionista deixou-lhe o disco e a pequena vitrola quando o circo partiu.
Aos poucos foi ficando conhecido por todos e suas esculturas faziam imenso sucesso com os turistas em dia de romaria.
E foi assim por longos anos, até que a fome e a seca lhe tiraram toda a família.
Há muito que não sentia vontade de viver, seu sonho de trabalhar na cidade grande já era coisa do passado.
Suas esculturas já não despertavam o interesse dos poucos turistas que apareciam na cidade em época de romaria.
Estava cansado de ver folhas secas, fontes e rios sem água , de ver as pessoas elevarem seus olhos para o céu imensamente azul , sem nuvens, rezando pedindo chuvas.
Era véspera de Natal , a terra árida , o gado esquelético arrancava o último resquício de vegetação do pasto .
A janela do casebre estava aberta quando a chuva começou naquele fim de tarde.
No início eram apenas uns pingos tímidos que rapidamente eram absorvidos pela terra sedenta, mas foi aumentando, acompanhada por raios que cortavam o céu impiedosamente.
Escureceu repentinamente e logo o homem acendeu uma lamparina que estava em cima de um armário rústico bem ao lado da mesa da cozinha.
Passaria mais uma noite de Natal sozinho, tomando uma sopa rala com pedaços de pão e finalizaria sua refeição com um bom naco de rapadura.
Sentiu-se mais alegre, pois quando a chuva cai enche os açudes ,a caatinga reverdece. as flores surgem e a vegetação rasteira cobre o chão.
Acordaria cedo para observar o capim verde depois da tempestade, ouviria o canto da passarada pela manhã.
A partir das cinco da tarde o céu ficou 'cavernoso', as nuvens escuras e densas pareciam verdadeiros monstros, trovoadas e relâmpagos tomaram conta do céu.
Lamentou não poder ouvir Mozart naquela noite por não haver energia em toda a cidade.
Jamais havia presenciado uma manifestação da natureza tão violenta e pela primeira vez , teve medo de ir lá fora para fechar o portão.
Numa fração de segundo, um raio derrubou uma árvore e abriu um buraco no chão.
O telhado da casa vizinha foi arrancado pelos ventos e atingiu em cheio uma vaca magricela que estava perto da cerca.
Começou a culpar em pensamento toda aquela gente que rezava sem parar pedindo chuva.
Parecia o fim do mundo!
Aterrorizado, Américo tentou fechar rapidamente a janela, mas o raio foi mais rápido e o atingiu em cheio.Foi atirado a alguns metros dedistância e caiu desfalecido.
Choveu a noite toda, e pela manhã somente o vira-lata da casa que havia se escondido debaixo da cama, sobreviveu àquela noite aterrorizante.
O pobre animal não teve a quem pedir ajuda, não sobrou viva alma na cidade.
Ao longe, como se ecoasse do céu , podia-se ouvir a Lacrimosa de Mozart.

Nana Pereira



sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Presa às estrelas



















Tenho o privilégio de ter um quarto com vista para uma igreja.
Bem em frente...
Da janela avisto os pequenos pombos que pousam nos beirais todas as manhãs.
Mas, incrível mesmo, é o céu no final da tarde.
Sempre que há uns rasgos entre as nuvens, ao final do dia, o céu fica com uma luminosidade, que me prende o olhar... e me faz sonhar.
Hoje estou assim... presa às estrelas.

Nana Pereira

A felicidade é cor de rosa
























É a cor da harmonia, do amor altruista, do amor incondicional,
É suave e nos acalma , é a tonalidade do amor, da delicadeza e do afeto pela humanidade .
Suaviza nossa natureza instintiva , indica compaixão e pureza.
Ajuda-nos a sermos mais gentis, dóceis, emotivos e carinhosos,
Enche-nos de alegria e de um sentimento de compartilhar o que a vida tem de bom.
Estimula -nos a termos paciência, abnegação e cuidado com os outros.
O rosa quando derramado sob nós reflete como uma “chuva sagrada”,
Por isso penso que a felicidade seja cor-de-rosa.

By Nana Pereira

Os melhores anos
























"Ouço teu silêncio e o transformo num sorriso."
Américo Novaes



Estava sentada na varanda com os olhos fechados enquanto as recordações povoavam seus pensamentos e invadiam seu coração!
Dali a poucos dias faria oitenta e quatro anos.
A vida lhe fora generosa, ainda conservava a mente sadia e ainda tinha gosto em cuidar do jardim.
Semeava dálias e prímulas enquanto pensava na vida. Como num filme, via os momentos felizes que vivera.
Com os cabelos presos por uma fivela de estrela, Passava alguns momentos em sua varanda, ora cuidando, ora apreciando seus vasos de flores.
Ainda conservava o pé de romã, o pé de cereja e os hibiscos de toda uma vida.
Gostava de ser acordada pelo canto dos bem-te-vis, ouvir o sino da igreja e,só assim levantava-se para fazer o café.
Era uma mulher alegre,sonhadora , curiosa, cheia de idéias, gostava de escrever poesias e histórias enquanto olhava o céu cheio de estrelas.
Sim, sempre fora apaixonada por estrelas. Costumava dizer que só elas sabiam entender o que ia em seu coração.
Tivera poucos amores,muitas alegrias e alguns dissabores, todavia nunca perdera a capacidade de sonhar.
Há trinta anos conhecera aquele que seria o grande amor de sua vida, fora apaixonando-se lentamente por ele à medida que ia descobrindo coisas em comum, pensamentos idênticos e suas almas pareciam se completar.
Ainda lembrava do rosto dele no primeiro encontro , ao vê-la no vestido de renda preta, deram-se as mãos e em silêncio caminharam, cada um sentindo o perfume do outro, cada um ouvindo o bater do coração do outro.
Seus mais belos poemas de amor foram inspirados por ele, jamais alguém tocara sua alma como ele tocou.
Sentia saudade das flores que ele trazia junto com sorrisos e beijos apaixonados, do café da manhã de mãos dadas, torradas com geléia, cerejas e beijos.
Com ele havia vivido os melhores anos de sua vida.Guardara cada cartão, cada bilhetinho,os brincos e o anel, os livros que ele lhe trazia vez ou outra, os CDs de música clássica, músicas francesas, fotografias , as bonequinhas japonesas que enfileiradas, enfeitavam a cômoda do quarto, mas sobretudo, guardava na memória e no coração as declarações de amor, os abraços e os momentos meigos que juntos viveram.
Quantos belos momentos viveram e quantos nunca foram vividos!
Há trinta anos pintara uma caixa de cor prata e salpicara estrelas na tampa para guardar essas recordações.Dentro dela , como num quebra-cabeças, pedaços de sua vida.
Fora feliz como talvez muitas pessoas nem imaginem, tivera o melhor dele, deixara seu nome gravado para sempre em seu coração.
Em silêncio, relia cada cartão, o coração transbordando de amor , as lágrimas desciam inevitáveis, acompanhadas de um sorriso que iluminava seu rosto.

Nana Pereira

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Seu Elias às suas ordens



































Tudo o que acontece é natural -
inclusive o sobrenatural.
Mário Quintana



Havíamos nos mudado para o prédio há pouco mais de 6 meses.

A construção era bem antiga, a pintura apresentava grandes marcas de desgaste e o único elevador do local balançava e rangia na medida em que se alcançavam os andares mais altos. As escadas de emergência tinham um aspecto sombrio; as luzes de segurança há muito tinham queimado e aparentavam não receber nenhuma manutenção nas últimas décadas.
O apartamento ficava no sétimo andar, era bem amplo e arejado, porém ao cair da noite revestia-se de uma atmosfera sombria e melancólica. O silêncio proveniente do bosque que emoldurava a janela da sala parecia amplificar o crocitar de corujas e corvos, que habitavam as árvores mais próximas.

Em algumas conversas casuais com os porteiros, sempre vinham à tona histórias sobre um senhor que tinha se jogado da varanda da sala e que assombrava o condomínio, mas nunca demos muita atenção, por pensarmos ser um disparate daqueles que exercitam a criatividade no intuito de manter a sanidade mental num ambiente de trabalho tão monótono, como a portaria de um prédio antigo. Zico, o porteiro noturno, e também o mais falante, adorava puxar este tipo de conversa quando percebia que dispúnhamos de algum tempo livre para bater papo. Ele arregalava os olhos e falava com muita categoria que tinha orgulho de trabalhar num prédio habitado por almas penadas, e confidenciava que elas muitas vezes lhe faziam companhia em suas longas jornadas madrugada afora.

Naquela quinta-feira fatídica, Zefinha, nossa empregada, acordou indisposta, alegando não ter conseguido dormir por conta de uma noite permeada por pesadelos. Dizia ter sonhado com um senhor vestido de cinza, que sussurrava algumas frases confusas, pregando que uma maldição estava prestes a ocorrer.

Ao cair da tarde, estávamos reunidos em família na copa para um lanche da tarde como de costume, conversando, rindo e as crianças contavam as novidades da escola.

Zefinha participava ativamente da conversa, quando de repente colocou as mãos na têmpora, alegando uma leve tontura e disse ter pressentido algo de ruim. Seguimos sem dar muita atenção a ela, pois volta e meia ela sentia uns "piripaques" esquisitos.

Passados uns dez minutos, levantei os olhos e então vi passar de relance pela janela o vulto de um corpo, seguido de um forte estrondo e um ruído seco. Tudo ocorreu em questão de segundos, não tivemos tempo de processar o que havíamos acabado de presenciar,.
As mulheres da casa, então atônitas, ficaram tremendo e em estado de choque, sem saber que atitude tomar. Imediatamente o Falecido 1 (não colocarei o nome do meu primeiro marido, para preservar sua privacidade) tomou a frente da movimentação e, em meio a nosso alvoroço, foi até a área de serviço espiar o que de fato havia ocorrido. Da varanda, ele pôde observar que se tratava de uma mulher de meia-idade, tez clara e roupas florais. No cimento gelado da garagem do prédio agora jazia, desfalecida. Estatelada no chão, ela caíra de costas, com os braços perpendiculares ao tronco, como se estivesse tentando agarrar alguma coisa. Seu corpo, no entanto, permanecia intacto a olhos nus, sem vestígios de mancha de sangue. F1 não nos deixou olhar para o corpo, já prevendo que aquela imagem nos causaria um choque desnecessário. Ele desceu ao térreo para tentar dar alguma assistência à vítima, porém voltou com más notícias: a mulher na verdade havia se suicidado, e não escapou com vida da queda do décimo terceiro andar.

Mais tarde, enquanto assistíamos à televisão, Zefinha aparece na sala, esbaforida, com os olhos estatelados e as mãos suando, perguntando com uma voz trêmula se alguma de nós sabia de quem era um pé de sapato roxo, encontrado na varanda da área de serviço. Nós nos entreolhamos, com uma expressão de espanto e interrogação e respondemos que não sabíamos do que se tratava.

Em seguida, honrando a fama de bicho curioso que toda mulher carrega no seu âmago, corremos até a área de serviço para averiguar o "achado". Tratava-se de um sapato baixo, um tanto quanto démodé, com solado de borracha, daquele tipo que nossas tias-avós comprariam de olhos fechados. Foi aí que tivemos um estalo: se o bendito sapato não pertencia a nenhuma de nós... então ele só poderia ser da defunta ! Isto explicava o primeiro estrondo que ouvimos mais cedo: parte do parapeito da varanda havia se quebrado com o impacto do corpo na queda, e por conta disto o sapato caíra para dentro da nossa casa.Uma sensação inexplicável de terror e excitação nos tomou de imediato. E ninguém se atrevia a encostar no objeto macabro.

Interfonei para a portaria, e após explicar a situação ao Zico, pedi que ele subisse ao nosso apartamento para dali retirar o sapato e nos livrar daquela situação constrangedora. Em menos de dois minutos, a campainha tocou.

Zefinha abriu a porta e um senhor de barbas brancas, muito educado, cumprimentou-a e disse que a pedido do Zico havia vindo a nosso socorro para levar o sapato embora, pois conhecia a família da vítima e achava por bem devolver a eles o objeto da falecida. Ao despedir-se , este se apresentou como "seu Elias, às suas órdens", antigo morador do prédio e amigo dos vizinhos.

Naquela noite, Zefinha que estava apavorada, pediu para dormir no quarto de uma das meninas.

No dia seguinte, ao descer para ir à padaria , Zefinha encontrou Zico que lhe disse que andava muito atribulado, mas que de todo modo mais tarde iria ao nosso apartamento para pegar o sapato. Zefinha disse que não precisava, que o senhor Elias já havia feito o "serviço sujo", e que, passado susto, agora estava tudo bem.

Perplexo, Zico disse que não era possível, pois há muito aquele senhor não morava mais no prédio. Ela sorriu e perguntou se ele não havia estado por ali na ocasião somente de passagem, porém Zico arregalou os olhos e disse: "Não, Zefinha, a última vez que seu Elias apareceu por aqui foi numa manhã chuvosa de 14 de junho, como ontem. Mas isto foi há quarenta anos, quando ele pulou da janela".

Zefinha caiu estatelada no tapete vermelho que forrava a portaria!

Nana Pereira




Cenas de um casamento



























Quero um homem
que saiba me amar
Encontre caminhos
Em meu corpo
Mas, que também descubra
a minha alma..




Estava assistindo um filme sobre casamento e enquanto passavam os créditos na tela da TV, imediatamente transportei-me a minha infância!

Desde muito cedo gostava de fazer desenhos de vestidos de noivas , passava horas desenhando vários modelitos e escrevia histórias românticas sobre casais apaixonados. (Ah, esqueci de dizer que fui uma menina muito precoce, aos cinco anos de idade já sabia ler e escrever ).
Histórias totalmente reprovadas por minha mãe, que dizia que aquilo não era coisa que uma criança devesse ou pudesse escrever.
Imaginava que algum dia casaria com um belo vestido branco com alcinhas brilhantes e um lindo buquê de lirios e jasmins e seria feliz para sempre.
Quanta tolice!
Casei-me aos vinte anos apenas no civil, o noivo não quis casar na igreja ( achava desnecessário). Sem direito a um vestido de noiva e muito menos buquê, passei quinze anos casada, tivemos duas filhas e não fomos felizes para sempre.
Alguns anos depois, casei-me novamente, só que desta vez optei por um casamento informal, do tipo juntar as escovas de dentes e ser feliz pelo tempo que me fosse permitido.
Vivemos cinco anos felizes (não entrarei em detalhes) e um dia me vi solteira novamente.
Pensam que eu desisti?
Insisti no casamento informal e casei-me pela terceira vez. Foi o casamento mais curto que tive, apenas dois anos e meio.
Havíamos feito planos de viver juntos o resto de nossas vidas e penso que por ele teríamos vivido mesmo, mas o ciúme matou bem rápido minha vontade de passar o resto da minha vida ao seu lado.
Sete anos se passaram e vocês vão pensar que essa história de casamento ficou no passado, não é?
Surpreendentemente não ficou!
Ainda sonho com o tal vestido de alcinhas, com o buquê de lírios e jasmins e com o noivo, é claro.
Talvez inverta as regras , leve meu violino e junto com a orquestra toque a marcha nupcial na entrada do noivo, talvez beije o noivo escandalosamente antes da cerimônia começar.
Talvez "ele" more em Guadalajara, Hawwai, Japao ou Tanzânia e esteja a minha procura e seja apenas questão de tempo.
Quando falo isso , minha mãe olha bem nos meus olhos e diz : - Minha filha, você ainda acredita nisso?
Mas, querem saber?
Na realidade não é o vestido, nem o buquê que verdadeiramente tem importância, afinal sempre posso usar o photoshop e me vestir de noiva.
É o olhar do noivo para mim, no momento em que ele me vir que faz com que eu continue a sonhar com o casamento.
Aquele olhar que significa "é com você que quero passar toda a minha vida"!

Nana Pereira

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O tempo e o vento






















Houveram épocas em que o relógio era meu fiel companheiro de todos os momentos, às vezes até dormia com ele.
Meu dia era cronometrado, cada minuto tinha uma importância vital.
Acho que eu tinha uns oito relógios, todos funcionando. Em casa haviam seis relógios de parede.
Durante muitos anos segui à risca os horários , sempre fui do tipo pontual e muitas vezes cheguei antes do horário em meus compromissos.
Não posso reclamar, foi uma época feliz em que eduquei minhas filhas.
Tínhamos horário para comer, conversar, ler, brincar, estudar e sonhar.
Está certo que os sonhos ficavam no final da fila, mas sempre estiveram presentes.
Hoje, continuo tendo a mesma quantidade de relógios, mas estão perdidos em alguma gaveta.
Acordo com a luz do sol entrando pela janela, almoço quando tenho fome, aprecio achuva caindo na torre da igreja, encanto-me com a luz das estrelas.
Hoje fui ao dentista e saí bem antes para poder andar sem pressa, observar os caminhos, as pessoas, as árvores .
Gosto de sentir o vento no rosto, nos cabelos, sem importar-me se vão despentear-me .
Gosto de poder sentar-me em um Café e comer minha torta predileta acompanhada de um café e olhar para as pessoas que passam apressadas.
Já tive pressa também e entendo que faz parte de nossa vida essa fase de correr contra o tempo.
Hoje, prefiro correr com o vento, ao seu lado, desfrutar da brisa , do sereno e da delícia que é estar viva.
Semana passada, estive no médico e contei-lhe que tenho acordado durante as madrugadas para escrever, que as idéias e as palavras querem sair do meu cérebro para o papel.
Ele receitou-me um remédio para eu dormir sem acordar durante a madrugada.
Disse-me que preciso dormir, afinal não sou nenhum Jô Soares ou alguma escritoar famosa.
Saí do consultório sentindo um certo pesar, uma certa tristeza, não por não ser o Jô Soares, mas por ver que em nossa sociedade não é permitido sonhar, se sonhamos somos loucos e irresponsáveis.
Não tenho a pretensão de ser um Jô Soares de saias, mas também sei que ele não nasceu famoso e que deve ter ouvido muitas histórias e conselhos deste tipo: Arrume um emprego e escreva nas horas vagas, afinal você não é nenhum Rui Barbosa.
O que se pode esperar de um país onde a leitura não é incentivada, onde cultura é só para quem tem dinheiro?

Enquanto isso deixo que o vento acaricie meu rosto e despenteie meus cabelos enquanto sonho....

By Nana Pereira

Raio de sol




















Gosto de todos os dias da semana, mas particularmente adoro as terças-feiras, quando um raio de sol entra pela janela do meu quarto e me desperta.
Parece que tudo é mais bonito, o sol é mais quentinho, até o pássaro chato que me acorda às 5h da manhã fica parecendo um virtuose!
Acho que todos os dias deveríamos acordar, abrir os olhos e gritar:
- "Eba, mais um dia de vida"!!
Tento sempre ver o lado bom das coisas, fica tão melhor a vida!
Tenho um lema que diz : "Na vida, tudo é uma questão de como a gente vê as coisas"!
Hoje eu tinha horário com Joaquim José da silva Xavier, meu dentista!
Não gosto de ir ao dentista, ele que me perdoe, mas vou de má vontade.
Por isso , resolvi fazer uma coisa que me dê prazer todas as vezes que tenho consulta com ele!
Decidi que todas a vezes, após a consulta, vou passar no meu Café predileto e comer um pedaço de torta de limão!
Hoje após a consulta , passei no tal Café e pasmem, estava parcialmente fechado, com uma corrente impedindo a entrada dos clientes.
Parei bem em frente, olhei , pensei, olhei novamente.
Até que a mocinha que costuma me atender me viu e disse que não estavam abertos,devido a um problema com uma das máquinas.
Respirei fundo, fiz uma carinha meiga e disse quase suplicando:
- Mas só quero um pedaço da minha torta de limão!
Ela me olhou, pensou, e disse:
- Consegue pular a corrente?
Nem respondi!
Imediatamente pulei a corrente, como uma atleta de salto em altura e já estava dentro do Café!
Nada como ter boas pernas, e longas também!
Comprei minha torta e vim para casa saboreá-la com um café delicioso!
Nestas horas é que penso como é bom ter um raio de sol!

By Nana Pereira

Banho de espuma















Há muitos anos , morei em frente à Praça Buenos Aires e todos os dias , era acordada não pelo canto de um pássaro, mas por uma sinfonia de bem-te-vis e sabiás .
Eles iam entrando sorrateiramente em meu sonho , até que despertavam-me por completo.
Eu abria os olhos, espreguiçava-me , ia até a janela ver a renomada orquestra que ousava entrar em meus sonhos!
Eu tinha todo um ritual pela manhã , antes de sair para o trabalho,enchia a banheira com água quentinha, colocava sais de banho perfumados e ficava por vinte minutos soterrada pela espuma ,que muitas vezes transbordava pelo banheiro adentrando o corredor do apartamento.
Fechava os olhos e olhava para dentro de mim mesma sonhando com a tal felicidade.
Acho que era o único momento que sentia-me em paz naquela época.
Tinha uma orquestra sinfônica matutina só para mim, um apartamento imenso, uma biblioteca com tantos livros que talvez jamais tenha novamente, mas era imensamente infeliz.
Ainda consigo lembrar do canto dos pássaros e da espuma escorrendo pelo chão do banheiro.
By Nana Pereira

Um espelho tem muito o que contar...

























O espelho reflete aquilo que está diretamente incidido sobre ele.
Ele devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos.
Um espelho tem muito que contar...
É um momento em que olhamos para dentro de nós mesmos...
É preciso aprendermos a olhar as pessoas "com os olhos da alma", pois é nossa alma que consegue detectar outras almas
Temos que aprender a "nos" olhar... Temos que aprender a nos amar, apesar de nossas imperfeições.
Os olhos da alma conseguem enxergar mais do que o óbvio, mas nos acostumamos a ver apenas o que está a nossa frente.
Os olhos nos contam segredos mais profundos, os medos, os desejos, as dores, as alegrias...
Precisamos enxergar e não apenas ver, e assim aprendermos o segredo da vida.
Algumas pessoas são como diz Joaquim Manuel de Macedo na "Luneta Mágica", “míopes física e moralmente”
Precisamos usar a luneta do bom senso, e assim encontrarmos uma maneira de aceitarmos nossas imperfeições e a dos outros.
Precisamos enxergar não somente com os olhos ,mas com o coração.
Um espelho tem muito o que contar...

By Nana Pereira

A sagração da primavera




















É primavera nos trópicos!
Sons doces e sutis ecoam por toda a Terra!
Canários gorjeiam e trinam numa melodia única, suave e harmoniosa saudando o amanhecer.
Um sabiá-laranjeira , que é um dos melhores cantores do mundo, entoa seu canto nostálgico semelhante ao som de uma flauta.
Aves de colorido indescritível sobrevoam e pousam nos galhos das árvores floridas.
Flamboyans , acácias e ipês de todas as cores, estão carregados de flores!
Maravilha das maravilhas!
Que coisa mais bela de se admirar!
Os prados estão floridos, os beija-flores trissam enquanto sorvem o néctar das flores.
Quanta beleza, meu Deus!
As cigarras , no calor escaldante do meio-dia, entoam seu canto estridente
fretenindo, retinindo e chiando como loucas.
Borboletas coloridas ensaiam um balet em torno das margaridas, gérberas e bocas-de-leão.
A tarde cai e um rouxinol oculto pelas folhas de uma árvore, abre sua cauda e inicia uma extensa canção de longos trinados.
Por toda a parte ouve-se seu canto que se eleva nos ares . É uma sinfonia de doces trinados e tudo transforma-se em brilhantes correntes sonoras de uma beleza ímpar.
Uma revoada de andorinhas invade o céu anunciando o entardecer!
As primeiras estrelas despontam no céu e completam a beleza da criação!
Alguns pirilampos passeiam ,como pequenas lanternas iluminando a noite, grilos emitem um som nostálgico roçando uma asa contra a outra.
Gosto de fechar os olhos e sentir o suave perfume das flores, gosto dos pirilampos porque parecem estrelas que conseguimos alcançar.
Maravilha das maravilhas!

By Nana Pereira

Festa de Reis










Ao longo destes anos maravilhosos vividos com minhas filhas, uma das datas mais esperada era a da noite de Natal.
É uma data de muita alegria para mim e quem me conhece , sabe o quão apaixonada sou pelo Natal.
Minhas noites natalinas perderam um pouco de sua alegria quando minha filha mais velha casou.
Ela normalmente dá uma passada rápida aqui em casa, trocamos presentes, ela come sua torta favorita e vai para a casa dos sogros.
Sinto uma enorme falta dela durante a ceia, nas brincadeiras e na hora da oração.
Ano passado, resolvi criar uma festa especialmente para tê-la ao meu lado a noite toda.
Comecei a comemorar a "Festa de Reis"!

Preparei uma ceia parecida com a que fazemos no Natal, com rabanadas, peru, frutas e a torta predileta dela.
Não faltou incenso de mirra , a famosa romã ,nem os amigos queridos que convivem conosco durante todo o ano.
Diz a tradição que foi nesse dia que os Reis Magos viram a Estrela de Belém no céu e foram ao encontro de Jesus que havia nascido há pouco.
Todavia, para mim, passará a ser o dia que em que estaremos reunidas como família, como os "Três Reis Magos"!

By Nana Pereira

NOVO FERIADO NACIONAL
























Minha filha caçula costuma dizer que dou cárie de tão doce que sou!
É bem verdade que às vezes exagero na melação, mas é mais forte do que eu.
Nunca perco uma oportunidade de abraçar, beijar, dizer palavras doces e rir dos meus próprios problemas.
Tenho um amigo que me chama de Nádia Mara Meiga!
É claro que tenho meus momentos de megera, mas estes passam muito rápido.
Nunca consegui dar bronca e ser levada à sério por minhas filhas. Elas diziam que eu ficava linda quando estava brava.
Sempre foi um martírio para mim dar bronca nas crianças!
Esta semana ganhei um chaveiro de uma pessoa muito querida ,com dadinhos coloridos escrito Meiga, foi então que resolvi criar um novo feriado nacional : "O DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA MEIGA"!
É lógico que será comemorado no dia do meu aniversário, no dia 1 de março!
Adoro essas brincadeiras bobas e inocentes!
Uma vez uma pessoa perguntou-me se eu tinha sete anos de idade,respondi prontamente que sim e que provavelmente sempre terei.
Acho as crianças tão puras, tão meigas, são de uma doçura sem par!
Acho que deveriam haver pessoas mais meigas neste nosso mundo!

Nana Pereira

Quando estou EXTREMAMENTE feliz


















Quando estou EXTREMAMENTE feliz, perco o pouco do juízo que tenho, sorrio sem motivo, fico com ar de tolinha, parece-me que tudo vai correr bem, descubro beleza nas pequenas coisas, acho graça em coisas sem graça.
Perco a linha, a pipa e o carretel, tenho vontade de dançar nas nuvens com sapatilhas douradas, caçar estrelas com rede de tule, realizar meus sonhos mais impossíveis.
Sinto-me como um pássaro livre a cantar pela manhã anunciando o raiar do dia.
Tenho vontade de fazer parte de uma orquestra de anjos e tocar no violino "Sous le ciel de Paris"!
Quando estou EXTREMAMENTE feliz, parece que nada é impossível para mim, ponho meu vestido azul, meus brincos turquesa e acredito realmente que a vida é belíssima!

Nana Pereira

Caixinha de música























Caixinhas de música são cheias de mistério e encantamento!
Quando as abrimos, parece que entramos em um outro mundo, um mundo de sonhos e beleza sem fim!
Certa vez, minha mãe ganhou uma caixinha de música no seu aniversário.
Penso que foi o presente mais bonito que ela ganhou em toda sua vida.
Ficava sobre a penteadeira fechada, com alguns brincos e anéis.
Não me lembro de vê-la abrindo a caixinha apenas para contemplar a bailarina e ouvir a música que fazia com que meu coração estremecesse de felicidade.
Quando furtivamente eu entrava em seu quarto para ver tamanho tesouro, era como se pudesse transformar-me na bailarina que rodopiava em piruetas rápidas e delicadas ao som de Debussy.
Gostava de fechar os olhos para sentir a música invadir meu corpo e minha alma .
Era como um bater de asas dos anjos, um beija-flor sorvendo o néctar das flores, uma chuva de pó de estrelas.
Hoje, tantos anos depois, ainda consigo sentir um tremor por todo o meu corpo quando recordo daqueles momentos de extrema magia e felicidade.
Nunca tive uma caixinha de música, todavia sinto como se fosse dona de todas as caixinhas de música do mundo.
Agora quando observo o céu e vejo imensidao de estrelas que existem , penso:
-"As estrelinhas ainda se mantem nos meus olhos castanhos e sonhadores"
Elas habitam meu coração, meus sonhos e algum dia , guardarei um punhado de estrelas dentro de uma caixinha mágica com uma bailarina de olhos brilhantes .
Nana Pereira

A romanzeira


















Quantas surpresas a vida ainda me reserva?
Às vezes sinto-me um ser privilegiado diante da vida com pequenos acontecimentos do meu dia a dia.
De repente, uma música tocada por um flautista anônimo na praça, que entra por minha janela e me faz sorrir.
Um botão que se abre, sem pedir licença e me cumprimenta pela manhã.
Um sonho louco em que beija-flores saem voando de meus ouvidos.
Ou como hoje, um pé de romã, cheio de romanzinhas que ganhei de presente do dono do Café que frequento quase que diariamente.
Coloquei o vaso ao lado da minha romanzeira sem frutos, e fiquei extasiada quando descobri o promeiro bebê, o primeiro fruto do meu pé de romã!
Pequenas grandes surpresas que fazem com que meu dia seja realmente feliz.
Como deixar de ser sonhadora com tantos pequenos milagres?
Como ser triste e desesperançada em meio a tanta alegria e beleza?
Como duvidar que nossa vida faz sentido?
Sem dúvida, as melhores coisas da vida são aquelas pelas quais não esperamos.
Nana Pereira

Risadas que não têm preço
























Com o passar dos anos vamos esquecendo o prazer de brincar.
O lema "tempo é dinheiro" incorpora-se às nossas vidas e passamos a ignorar nosso lado lúdico, criança.
Costumo dizer que pessoas que brincam são pessoas felizes.
Além disso observo que pessoas felizes não adoecem facilmente.
É por meio das brincadeiras que visitamos o mundo da fantasia e realizamos muitos de nossos sonhos.
Brincar é um meio de unir a família, de demonstrar amor, de fazer uns felizes aos outros.
Nos faz tão bem, que deveríamos reservar mais tempo para brincar.
Deveríamos mesclar nossos momentos de seriedade com momentos de bom humor.
Rir de nossos problemas e de nós mesmos é uma excelente terapia.
Tenho um nariz de palhaço em cada bolsa para brincar com amigos estressados e sérios demais.
Gosto de pegar aqueles biscoitinhos redondinhos com um buraco no meio e colocar um em cada olho.
Vocês sabiam que é impossível ficar bravo com alguém que te faz rir?
E não existe nada melhor do que rir, sorrir e gargalhar!
É o que chamo de "Altas doses de felicidade"!

Nana Pereira