domingo, 30 de novembro de 2008

A casa 37






























Nenhum sinal de vida, nenhuma viva alma, a casa parece abandonada!
O muro de cor verde musgo, muito sujo e com a pintura descascada não me deixam mentir.
É uma daquelas casas que instigam nossa imaginação : será que o morador desistiu da vida?
Será que abandonado pela mulher, deixou-se cair na poltrona encardida da sala e ainda se pergunta "onde foi que errei"?
Sim, porque só pode ser um homem o morador da casa 37, visto que não há enfeite de Natal na porta de entrada e o jardim foi esquecido!
O velho portão de madeira parece que há muito não é aberto, na calçada em frente, um arbusto de hibiscos vermelhos carregado de flores, é a única evidência de vida no local.
À sombra do arbusto, um jovem mendigo dorme a sono solto, de boca aberta com seu vira-lata ao lado.
Pessoas passam pelo local sem perceber sua presença.
Olho novamente para a casa abandonada, vejo que a janela está semi-aberta , mas não há vestígios de luz ou de um rádio tocando música.
Percebo que o jardim , no passado, já foi bem cuidado, pequenas roseiras secas e até um jasmineiro ressecado estão lá para provar o que eu digo.
Talvez a mulher tenha falecido, e desgostoso, o homem não saiba como recomeçar a nova etapa de sua vida.
Não sei, mas há algo de triste naquela casa, um silêncio doído, uma história de amor interrompida.
Curiosa, fico parada em frente ao portão. O vira-lata me olha sem interesse e volta a dormir ao lado do seu dono.
Verifico a hora no meu relógio de pulso e vejo que ainda tenho alguns minutos antes de prosseguir meu caminho, ajeito minha bolsa no ombro direito enquanto carrego o violino na mão esquerda.
Saio andando lentamente, pensando nas músicas que iremos tocar daqui a pouco, deixo que a tristeza daquela casa abandone meus pensamentos , suspiro profundamente e aperto o violino contra o meu corpo.
Elevo meus olhos para o céu, que hoje está tão azul, tropeço na calçada esburacada e só então lembro que não havia tomado café antes de sair de casa.

Nana Pereira

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Sopa de letrinhas

























É incrível a maneira como as pessoas escrevem hoje em dia.
Fica até difícil entender o teor do assunto muitas vezes.
Ora!, escrever deveria ser como respirar, penso!
Não sei ainda onde iremos parar, ou acabar, mas já vejo as manchetes nos jornais de grande circulação:

- Mulher morre afogada na banheira tentando achar o trema de ungüento!

- Jovens matam lentamente a gramática todos os dias na Internet!

- Rapaz perde a namorada ao escrever Parabéns minha doçura com SS!

- Jovem executivo perde emprego ao empurrar a crase para baixo do tapete!

- Dentista perde paciente ao mandá-la "gospir"!


Aprecio muito a frase do Mario Quintana que diz "Às vezes a gente pensa que está dizendo bobagens e está fazendo poesia" , mas o que tenho mesmo visto é um monte de pessoas escrevendo bobagens.
Vejo tanta bobagem que meu cérebro vez ou outra entra em curto circuito.
Uma verdadeira atrocidade, um amontoado de palavras escritas como se fosse apenas uma sopa de letrinhas.
No outro dia comentei sobre Rubem Alves com uma amiga da minha filha e ela disse "Quem é esse"?
Tive que fazer um resumo da biografia do Rubem e percebi o brilho nos olhos dela.
Fico assustada com a falta de conhecimento das pessoas !

Parece que aquela frase famosa "The book is on the table" está em desuso, acho que The book is in the drawers .
Que pena!
Penso que não existe coisa melhor na vida do que ler e aprender, viajar no pensamento.

Abaixo a sopa de letrinhas!

Nana Pereira

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Alma de borboleta


























Dia de armar a árvore de Natal aqui em casa é dia de festa.
Para mim é o dia mais importante e feliz do ano .
Tem sido assim desde sempre.
Gosto de escolher os enfeites, fazer o mural de pedidos para a noite de Natal, as guloseimas que serão servidas e o principal que é a lista de convidados.
Gosto que seja bem no início de novembro, assim fico mais tempo em clima natalino.
Há uns oito anos que desejava fazer uma árvore com borboletas, mas não as encontrava.
Mas não desisti da idéia e finalmente esse ano consegui realizar meu sonho.
Coloridas , corpo frágil, asas brilhantes , diurnas, as borboletas prenunciam acontecimentos alegres ,são símbolos de liberdade, de alegria, de imaginação, de autonomia,
São fugidias, voam para onde querem, sem avisar que vão levantar voo.
São leves, risonhas e felizes, assim como deveriam ser as pessoas.
Para os chineses e japoneses, as borboletas junto às flores são sinônimo de felicidade.
Irresistivelmente atraídas pela luz,como a alma também é pela verdade divina, elas são símbolo da busca da verdade.
Talvez por terem tão pouco tempo de vida sejam tão alegres e bonitas.
Minha árvore de Natal esse ano está mais alegre, colorida e brilhante.
No topo da árvore pousei uma borboleta grande para simbolizar o amor , que é a coisa mais importante em nossas vidas.

Nana Pereira

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O funeral da boneca












Na noite anterior, várias flores damas da noite haviam perfumado os canteiros ao redor da casa, o cheiro adocicado ainda permanecia no quintal naquela tarde.
Num canto , perto do jardim, sentei para brincar com minhas bonecas de papelão.
Naquele tempo existiam bonecas de papelão que enfeitavam as garrrafas de refrigerantes nas mesas de aniversário e tão logo a festa acabava, rapidamente eu as recolhia para brincar.
Era uma daquelas tardes quentes de mormaço em que qualquer esforço mínimo era simplesmente insuportável.Sentei-me à sombra com minhas bonecas de papelão e reparei que uma delas estava com o pescoço por um fio.
Menos uma, pensei!
Foi aí que tive a idéia de dar-lhe um funeral digno, com velas, rezas e até lágrimas.
Pobre bonequinha, tão jovem!
Deitei-a sobre a tampa de uma caixa de sapatos e munida de duas velas brancas e uma caixa de fósforos, dei início ao funeral.
Lembro-me de cantar baixinho a música "O pequenino grão de areia", acho que era porque toda vez que ouvia esta música eu chorava .
E não foi diferente daquela vez.
Cantei toda a música enquanto acendia as velas ao lado do "corpo" inerte da boneca .
O perfume doce das flores, o cheiro da parafina das velas queimando, a música triste e a reza faziam do funeral um momento solene.
Enquanto as velas ardiam ao lado do corpo da boneca, comecei a cavar o local onde a enterraria .
Tudo muito solene e respeitoso!
De repente, o portão se abre e entra meu pai com aquela cara de poucos amigos !
Rapidamente, ele percebe as velas acesas e as apaga rispidamente dando-me um safanão.
Senti uma mistura de tristeza e raiva por sua incompreensão .
Em silêncio , terminei o funeral da boneca sem nem mesmo o final da reza.
Depois daquela tarde, nunca mais brinquei com as bonecas de papelão...

Nana Pereira

sábado, 8 de novembro de 2008

O dia que assaltei um pé de hibiscos




















Vocês irão pensar: "O mundo está perdido"! Até tu Brutus?
Eu sei que o que fiz não foi politicamente correto, mas foi mais forte do que eu!
Ajoelho-me e peço perdão, mas não estou arrependida!
Hoje está um lindo dia e saí para passear com minha fiel escudeira Baby Xuxuzinho ( minha pinscher saltitante), como estou com o joelho esquerdo avariado devido a uma batida na quina da cama, fomos caminhando bem devagar!
A Baby, lépida e saltitante e eu, meiga e manquitolando!
Descobri vários pés de hibiscos por todo o caminho!
De quase todas as cores: rosas, brancos e vermelhos. Só não vi amarelos!
Um forte impulso tomou conta de meu ser!
Pensei com meus botões:
- Preciso "afanar" um galho da árvore, quem sabe não brota?
Meu lado meigo gritava no meu ouvido:
"Que coisa feia, vai ter coragem de surrupiar um galho do arbusto?
Sem pensar muito, "assaltei" o arbusto de hibiscos vermelhos.
Foi até fácil, olhei para os lados e ninguém parecia estar olhando!
Só não consegui afanar dos outros porque eram altos e eu teria que pular!
Meu joelho não está muito bem, então resignei-me e fiquei só com o galho do hibisco vermelho.
Já sei o que vão pensar:
- Fez da cachorrinha sua cúmplice!
Mas, tenho uma atenuante: não foi um crime premeditado!
Saí apenas para passear!
Além do mais , sou ré primária!
Vou arrumar uma amiga advogada!
Já estou premeditando assaltar o hibisco cor-de-rosa!
Agora que já sou uma assaltante experiente, usarei luvas para não deixar minhas impressões digitais!
Estou até pensando em assaltar o Manacá perfumado que tem lá no Café que costumo comer minha torta de limão!
É......................., o mundo está perdido!

By Nana Pereira

É preciso amar as pequenas coisas


















" É preciso enxergar as pequenas coisas, como plantar roseiras sem pensar em colher as rosas.
Hoje plantei rosas para colher seu perfume quando florescerem, para sentir mais de perto a beleza da natureza.
É preciso cuidar das roseiras com muita delicadeza, cortar as flores murchas para canalizar a energia para os novos rebentos.
No Inverno, protegê-las da geada e do frio e depois esperar que dêem as flores mais belas do jardim, que irradiem beleza, perfumem, e nos tornem felizes.
Sinto um prazer indescritível quando descubro um novo botão surgir ou uma folha novinha que acabou de nascer.
Chamo-os de meus bebês!
Que coisa magnífica , meus olhos poderem contemplar as flores do meu jardim, enquanto um senhor toca flauta na praça aqui em frente de casa.
Hoje , plantei minhas novas roseiras ao som da quinta sinfonia de Beethoven, e acreditem, não existe coisa mais linda na vida!
Sento-me no chão com meu equipamento de jardinagem e minha cachorrinha no colo.
Enquanto coloco a terra , o adubo e planto, ela fica deitada no meu colo só observando!
Talvez se eu não fosse sonhadora, fosse jardineira!

Nana Pereira

Para ser feliz!

























Há pessoas que pensam que para serem felizes , precisam ter muitas coisas materiais!
Sou do tipo que fica feliz com pequenas coisas.
houve uma época em que precisei morar em um quarto e sala com minhas duas filhas.
O apartamento era bem bonitinho, mas era muito pequeno!
No quarto havia apenas um beliche, uma escrivaninha para as meninas estudarem e um guarda-roupas.
Uma vez uma amiga me disse:" Não entendo você, compra lingeries lindas para dormir sozinha e ainda por cima nem tem uma cama!"
Não cabia uma cama para mim, por isso eu dormia em um colchonete.
Vocês vão pensar : Coitada, não tinha cama !
Não sintam pena!
Eu acampava todos os dias , e nos fins de semana ganhava café na cama e fazia piquenique com as crianças.
Tomava banho de porta aberta quando chegava do trabalho para ouvir minha filha tocar minhas músicas preferidas no órgão!
Haviam relógios por toda a casa.
Acho que eram para nos lembrar de como a vida passa rápido e que temos que aproveitar o máximo os momentos felizes!
Acho que quando Deus criou-me, deu-me uma alma alegre e simples!
E depois, quando cresci, deu-me duas lindas filhas que são a minha paixão!
By Nana Pereira

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Manhã de primavera




















Que canto é este que invade meu quarto e atrapalha meu sono logo cedo?
O dia mal acabou de nascer e a cantoria já anda à solta.
Será o canário do vizinho triste que só usa camisas escuras e bate a porta do elevador?
Será o curió que fez seu ninho bem na torre da igreja, sem alvará ou contrato de aluguel?
Ou será que é um sabiá-laranjeira alardeando a chegada da primavera?
O jardim já está florido, a romanzeira não se aguenta de tanta flor. Um sanhaço passeia displicentemente na grade do jardim, observa os vasos de flores e vez ou outra sorve uns goles de água dos bebedouros.
O céu está bem azul, o sol brincalhão bafeja sobre os prédios. No cavalete, um quadro de cerejeiras inacabado, um tubo de tinta vazio, um pincel caído no chão.
O celular avisa que chegou mensagem. Sinto o coração bater mais rápido, sento na beira da cama , prendo os cabelos e vou em direção à cozinha.
Minha cachorrinha segue-me toda alegre esperando meu carinho e sua ração, é claro.
Preparo meu café, cantarolo um trecho da música que toquei ontem no concerto enquanto passo geléia nas torradas.
Sinto saudade da minha caçadora de joaninhas...

Nana Pereira

A sagração da primavera






















É primavera nos trópicos!
Sons doces e sutis ecoam por toda a Terra!
Canários gorjeiam e trinam numa melodia única, suave e harmoniosa saudando o amanhecer.
Um sabiá-laranjeira , que é um dos melhores cantores do mundo, entoa seu canto nostálgico semelhante ao som de uma flauta.
Aves de colorido indescritível sobrevoam e pousam nos galhos das árvores floridas.
Flamboyans , acácias e ipês de todas as cores, estão carregados de flores!
Maravilha das maravilhas!
Que coisa mais bela de se admirar!
Os prados estão floridos, os beija-flores trissam enquanto sorvem o néctar das flores.
Quanta beleza, meu Deus!
As cigarras , no calor escaldante do meio-dia, entoam seu canto estridente
fretenindo, retinindo e chiando como loucas.
Borboletas coloridas ensaiam um balet em torno das margaridas, gérberas e bocas-de-leão.
A tarde cai e um rouxinol oculto pelas folhas de uma árvore, abre sua cauda e inicia uma extensa canção de longos trinados.
Por toda a parte ouve-se seu canto que se eleva nos ares . É uma sinfonia de doces trinados e tudo transforma-se em brilhantes correntes sonoras de uma beleza ímpar.
Uma revoada de andorinhas invade o céu anunciando o entardecer!
As primeiras estrelas despontam no céu e completam a beleza da criação!
Alguns pirilampos passeiam ,como pequenas lanternas iluminando a noite, grilos emitem um som nostálgico roçando uma asa contra a outra.
Gosto de fechar os olhos e sentir o suave perfume das flores, gosto dos pirilampos porque parecem estrelas que conseguimos alcançar.
Maravilha das maravilhas!

Nana Pereira

O realejo

























Estava sentada em um Café, (o mesmo de sempre), quando surgiu o homem do realejo!
Há muito não ouvia a música de um realejo!
Fiquei a sonhar... sonhar...
Mas, tive medo de tirar a sorte e o periquito me dizer para ser menos sonhadora!
Nana Pereira

domingo, 2 de novembro de 2008

Pássaros cativos























Sei que não é politicamente correto, mas já tive pássaros em gaiolas!
Sim, mantive uma saíra ,três canários , um coleirinha , dois calafates e dois manons em cárcere privado.
Sinto até um pouco de vergonha em confessar meu delito, mas estou tentando redimir-me .
Acho que era uma forma de sentir-me mais próxima da natureza, já que moro em apartamento e rodeada de prédios.
Mas, nem sempre foi assim, na infância morávamos em casa com quintal, pomar e jardim.
As cercas eram vivas, as borboletas e os pássaros estavam sempre rondando o quintal.
Durante as tardes de verão, sentava-me à sombra de um pé de tangerina, deliciava-me com a fruta enquanto os pássaros faziam folia nas árvores.
Hibiscos e lantanas eram flores comuns para mim.
Mas, voltando aos pássaros, contarei a história de cada um deles e espero que seja absolvida , ou que no mínimo minha pena seja atenuada.
O primeiro pássaro que mantive em cativeiro foi uma saíra. Para quem não conhece, é um pássaro lindo, colorido, não canta e é muito arisco.Acho que devo dizer que é esperto também, pois na primeira oportunidade que teve, fugiu enquanto eu trocava a água do seu bebedouro. Nem preciso dizer que fiquei arrasada com sua fuga.
Tive um coleirinha que cantava que era uma beleza! Lembro-me que numa de nossas férias de dezembro, deixamo-lo na casa de um conhecido e quando voltamos o pássaro havia sumido. Até hoje não sabemos o paradeiro dele. Tenho a impressão de que foi vendido pelo conhecido em questão.
Algum tempo depois, acompanhando uma amiga a uma loja de aves, fiquei encantada por um casal de calafates. Os calafates são pássaros coloridos e ativos , não cantam, mas tem um piadinho bonitinho.
Resolvi comprá-los! O vendedor disse que só poderia vender um porque o outro era cego de um olho.
Fiquei consternada com a sorte do pobrezinho e disse ao homem:
_ Mas eu quero os dois!
Ele olhou para mim com ar incrédulo e disse:
_ Bem, nesse caso, você compra um e o outro (o ceguinho) vai de brinde.
Dei-lhes o nome de Stevie e Sting. Nem sei se eram dois machos ou um casal, mas , Resolvi que o que não enxergava de um olho deveria chamar-se Stevie.
Sting foi o primeiro a morrer e alguns meses depois Stevie também partiu!
A esta altura, já estava sem coragem de ter novo pássaro em casa.
Passei uns bons anos sem querer ter pássaros !
Até que um dia.....
O primeiro canário que tive, era um tanto quanto esquisito : tinha uns ataques e caía do poleiro como se tivesse tido um ataque fulminante e partisse desta para melhor.Como eu tenho pavor de pegar em bicho morto, esperava minha empregada chegar para dar início ao funeral e com espanto via o "falecido" novamente no poleiro.Acho que ele teve uns cinco ataques desses e um dia morreu de verdade.
Passei anos sem querer saber de pássaros novamente, até que um dia ganhei de presente de uma amiga um canário amarelo.
Este foi o primeiro pássaro que dei nome. Batizei-o de Wófel.
ele era novinho e conforme orientação da minha amiga, dei-lhe toda atenção e cuidados.
Comprei uma gaiola gigante, vários bebedouros, banheira para banhos diários, alpiste com vitaminas, jiló, folhas de almeirão e sementes de pimentão.
O tempo passou e o dito cujo não cantava, só piava. Até pensei que fosse mudo!
Comprei um desses pássaros com pilha e pendurei perto da gaiola. Quem sabe ele não precisava de incentivo?
Numa das visitas de meu pai, contei-lhe meu infortúnio e ele (velho conhecedor de pássaros) disse-me que meu canário não cantaria nunca, era uma fêmea.
Consolei-me com a situação, mas mantive seu nome de Wófel. Há um ano que o chamávamos assim , não tive coragem de mudar seu nome. E se ele (a) tivesse uma crise de identidade?
Um dia, numa manhã de inverno, perto do dia dos namorados, Wófel amanheceu morto.
Fiquei tão triste, que no dia dos namorados, minha filha deu-me outro canário.
Desta vez, ela certificou-se de que era macho e que cantaria!
Wally era verde! (acho que tenho uma queda por nomes que comecem com W)
Nunca havia visto um canário verde, sempre achei que canários fossem amarelos, mas Wally era verde.
Um belo dia, meu pássaro amanheceu cantando. Fui despertada pelo seu canto!
Que coisa mais linda!
Comprei-lhe nova gaiola , daquelas com tripé. Parecia um castelo, era toda branca. Wally ganhou um lugar de destaque e cantava boa parte do dia.
Até que começou a apresentar um comportamento estranho: passou a cantar de madrugada. Parecia um louco, acordando toda a família e quiça os vizinhos.
Pensei que talvez fosse falta de uma namorada. Nunca saberei, pois um belo dia Wally foi para o céu dos passarinhos também.
Dois anos depois da morte do finado Wally, estava em uma loja comprando peixinhos para o aquário, quando vi um casalzinho de manons. Não cantavam, mas eram tão bonitinhos e simpáticos que não resisti e os trouxe comigo.
Batizei-os de Tito e Meiga!
Comprei até um balancinho azul para alegrar suas vidas. Os dois disputavam o balanço o dia inteiro, cheguei a pensar em comprar mais um balancinho para evitar discórdia entre o casal.
O chão da área de serviço vivia cheio de alpiste e tudo parecia que estava indo muito bem até que uma manhã Tito amanheceu morto, assim sem mais nem menos.Dois dias depois a Meiga foi ao encontro do seu par.
Acho que morreu de saudade, como esses casais de velhinhos que quando um falece o outro não aguenta de tanta nostalgia e vai logo em seguida.
Fui tomada de uma tristeza medonha, olhava a gaiola vazia e não acreditava !
Resolvi então, pintar a gaiola , enfeitá-la com flores e pássaros artificiais e colocar para enfeitar o jardim.

Nana Pereira

sábado, 1 de novembro de 2008

Ensinando com amor


























Minha paixão por ensinar vem desde que eu era bem menina!
Quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescesse , eu logo respondia:
- Quero ser escritora e professora!
Acho que naquele tempo, quase toda menina queria ser professora , e tão logo terminei o antigo ginásio, fiz uma espécie de vestibular para entrar na "Escola Normal Sara kubitschek ".
Nunca entendi porque davam o nome de "Escola Normal", ficava pensando se as outras escolas eram anormais!
No último ano do curso, as escolas estaduais do Rio de Janeiro estavam com carência de professores e as melhores alunas de magistério das escolas Sara kubitschek e Carmela Dutra, foram chamadas como estagiárias.
Foi assim que aos 17 anos ganhei o título de professora.
A escola era uma escola modelo, tudo era muito limpo, a diretora era temida por ser extremamente exigente, costumavam dizer que quando ela adentrava o portão da escola , todos tremiam.
Fui muito bem recebida e não tremi, tenho que confessar!
Foi empatia à primeira vista!
Minha classe era composta por crianças de 6 e 7 anos, a maioria com dificuldade de aprendizado.
Havia um regulamento a seguir e toda uma didática imposta pelo MEC.
Eram 25 crianças a serem alfabetizadas .
Nas primeiras semanas segui à risca o plano de aula que a mim fora designado, mas com o passar das semanas, fui acrescentando uns toques pessoais às aulas.
Minhas crianças sentavam-se no meu colo, ficávamos de mãos dadas, nos acariciávamos e algumas alunas até penteavam os meus longos cabelos lisos (o que acarretou em uma invasão de piolhos na minha cabeça).
Descobri que havia uma vitrolinha e discos de histórias e cantigas de roda na sala de material didático, então , pelo menos umas 2 vezes por semana ouvíamos histórias e acreditem, dançávamos na sala de aula.
Encostávamos as mesas e cadeiras na parede e a sala virava um salão de dança.
Os meninos dançavam com meninos e as meninas com as meninas e todos, sem exceção dançavam comigo.
Eram tardes extremamente alegres e no final, recolocávamos as mesas no lugar para não sermos descobertos.
As crianças adoravam ouvir as histórias , tínhamos a nossa história predileta que era "A formiguinha e a neve". Perdi a conta de quantas vezes a ouvimos e invariavelmente chorávamos na parte em que Deus mandava o sol para descongelar a formiguinha e a salvava da morte. Nesse momento nos abraçávamos com os olhos cheios de lágrimas e sentíamos mais próximos do criador.
Mas, era muito difícil para mim ficar presa dentro da sala de aula, foi então que pedi autorização à diretora para criar umas aulas de recreação ao ar livre.
A escola tinha um grande espaço de terra com plantas e árvores, que não era utilizado a não ser na época das festas juninas. Apresentei meu projeto e no dia seguinte ele já foi aprovado.
Passamos a descer por uma hora para passear , correr, fazer exercícios , descobrir insetos e brincar.Cada aluno trazia um short dentro da mochila e trocavam de roupa no banheiro.
O triste era que éramos a única turma com essa atividade, percebia os olhares de admiraçõa e porque não dizer de inveja das outras crianças.
Criamos uma mini biblioteca dentro da sala de aula e passávamos boa parte do tempo lendo e folheando os livros.
Viajávamos a cada história e depois as crianças desenhavam e davam sua interpretação para a história.
Em setembro, resolvi fazer uma exposição dentro da sala de aula sobre as quatro estações.
Dividi a turma em quatro grupos e cada um deu sua contribuição em desenhos, colagens e montagens.
Enviamos convites para as outras turmas virem nos visitar.
Acreditem, foi um sucesso! As crianças , cada qual com seu assunto, explicavam as singularidades de cada estação do ano.
Ainda lembro do orgulho que senti de cada um deles!
Recebi um cartão de agradecimento pelo belo trabalho da direção da escola e foi como se tivesse ganho um prêmio Nobel!

Hoje, tantos anos depois fico me perguntando como estará cada uma dessas crianças.
Sei que fiz a diferença na vida delas e agradeço a Deus por ter essa alma de criança livre e sonhadora até hoje.

Nana Pereira