terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Simpatias de ano novo


























Para se ter sorte no ano-novo, vale tudo!
Para ter um ano doce, comer um merengue ou suspiro, logo após à meia-noite, o duro é a quantidade de calorias ingeridas, que depois nenhuma simpatia dará jeito.
Segundo a tradição, devemos comer lentilha ou, na falta desta, feijão. Acredita-se os grãos que aumentam de volume durante o cozimento trazem fortuna. Neste caso , nós brasileiros, fãs de feijão, seríamos abastadíssimos!
Segundo as crenças populares, aves não devem ser preparadas na ceia de ano novo, porque ciscam para trás e possuem asas. Sendo assim, fariam a felicidade voar embora. É aconselhável preparar carnes como boi, cordeiro e principalmente porco, animal que fuça e empurra a terra para frente. Peixes como atum, bacalhau e salmão, considerados peixes "destemidos", também são recomendados.
Quanta tirania gastronômica!
Eu prefiro comer aquilo que tenho vontade, independente de voar ou nadar, ou mesmo boiar.
E ainda temos aquelas simpatias em que usamos as cores como amuletos da sorte.
Comer uvas na virada do ano garante prosperidade e fartura de alimentos. Para garantir também dinheiro, devemos guardar as sementes na carteira ou na bolsa, até a troca do próximo Ano-Novo.
Se comer uvas, quero saboreá-las sem preocupar-me em guardar as sementes.
Ainda tem aquelas sobre os cuidados com a casa!
A casa deverá ser limpa, varrendo-a de trás para frente, e o lixo deve ser deixado fora. As vassouras devem ser queimadas e as cinzas enterradas.
Minha nossa!
Não seria melhor enterrar as vassouras sem precisar queimá-las?
Fico pensando se alguém faz todas essas simpatias!
Lembro que na infância, minha mãe gostava de passar o Reveillon na praia. Para mim era uma verdadeira tortura!
A areia da praia ficava lotada de flores, velas , garrafas, cacos de vidro.
O sono tomava conta de mim e minha vontade era a de sair correndo daquele festival de bobagens.
Hoje em dia o grande barato é ver a queima de fogos!
E todo ano é a mesma coisa, milhões de pessoas olhando os fogos coloridos no céu por quinze minutos. Um monte de gente com garrafas e taças nas mãos, mais bêbadas do que o de costume, brindam a chegada do novo ano com o cérebro atordoado pelo álcool.
Gosto de estar bem sóbria na virada do ano para fazer novos planos, ter novos sonhos e acima de tudo comemorar o fato de ter vivido mais um ano.
Comerei cerejas e lichias alheia às tradições.
À meia-noite quero namorar as estrelas, gargalhar de felicidade, chorar de emoção, abraçar e beijar sem pressa quem estiver ao meu lado, sentir as batidas de nossos corações , sorrir e depois adormecer com esperança de acordar no dia seguinte para contemplar o céu mais uma vez.
Não farei promessas, apenas viverei um dia de cada vez!

Nana Pereira

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Noite feliz


























Todo ano era aquela correria, enfeitávamos a casa, armávamos nossa árvore e fechávamos a porta rumo ao Rio de Janeiro.
Era com tristeza que deixava para trás minha casa tão natalina, mas as crianças mereciam passar o Natal com os primos, tios e avós.
Foi assim por longos doze anos!
Ainda me lembro da primeira vez que comemorei o Natal em casa!
Isso foi há uns quinze anos atrás, éramos só nós três.
Dividi as tarefas e cada uma de nós deu sua contribuição na ceia.
No ano seguinte uma amiga da minha filha caçula juntou-se a nós. De família libanesa não comemorava o Natal.
No ano seguinte, um amigo judeu juntou-se ao grupo; era a primeira figura masculina em nossa festa.
Rodrigo era muito alegre e brincalhão e a partir desta data era presença importantíssima no Natal.
Depois vieram Soraia, que é adventista,Ana Maria que é espírita, Arlete que ficou muito cedo órfã de pai e mãe, as irmãs Lourdes e Marlene,minha vizinha Aracy, os namorados de minhas filhas e meus maridos (cada um na sua época, é claro)
Lembro que um ano , o "artista principal" , o peru ,ficou por conta da minha amiga Soraia.Todos estavam ansiosos porque já era quase meia-noite e ela não chegava.
As sobremesas sempre ficavam por minha conta e eram preparadas com muito esmero e carinho.
Invariavelmente, panelas e assadeiras iam para o lixo após os festejos, nunca fui muito boa com essa coisa de limpar panelas.
Fazíamos nosso "inimigo oculto" e era diversão na certa.
É claro que sempre haviam presentinhos para todos, mas o ponto alto da noite era mesmo a entrega do "inimigo".
Depois vieram as "performances" e tivemos malabaris, danças,música natalina no órgão, saraus e até um trio de rock. Cada um dava sua contribuição segundo seus talentos.
O mais bonito de tudo era que, apesar de sermos de religiões diferentes, todos fazíamos oração antes de comermos.
Eu preparava cartelas com passagens bíblicas sobre o aniversariante da noite, cada um lia a sua , depois todos orávamos o "Pai nosso" e só aí começava a festa.
Acho que minha alegria em festejar o Natal era contagiante, porque depois de alguns anos muitas das pessoas que passavam a noite de Natal conosco, começaram a procurar suas famílias e parentes para juntos comemorarem esta noite que é tão terna e familiar.
Recordo com saudade de cada um desses Natais, vejo as fotos, as fitas que gravamos, o coral que cantou "Noite Feliz" tão desafinada que choramos de tanto rir.
Ainda não consigo entender como algumas pessoas acham a noite de Natal triste, sempre haverá alguém que se juntará a nós nesta noite e "Onde houver duas ou mais pessoas reunidas em meu nome, por certo ali estarei"

Nana Pereira

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Que esse Natal não seja feito apenas de cores e comidas, luzes, prazeres e bebidas. Que haja partilha e esperança.
Que em nenhuma mesa falte pão, e em todos corações reine o amor.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008













Que em 2009 sejamos mais prósperos em amor,
que o desejo de ser seja maior que o de ter ,
que tenhamos atitudes mais humanas diante de nossos semelhantes,
que acreditemos mais em nossos talentos,
e que tenhamos mais motivos para sorrir do que chorar.
Que o Natal seja cheio de luz!

Nana Pereira

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A menina de alma perfumada




















Naquele ano em Águas da Prata, na época da primavera, o jardim da casa branca com janelas azuis, floriram de uma maneira diferente dos outros anos.
Os arbustos de hibiscos estavam carregados de flores, as flores de maio continuavam florindo sem parar.
As roseiras chegavam a envergar , tamanha a quantidade de rosas.
Haviam flores de todas as cores, mas misteriosamente, as flores vermelhas eram as que mais chamavam a atenção.
Tereza ,uma mulher de rosto tranquilo, desfilava sua barriga de grávida pelo jardim todas as tardes, sentava-se no banquinho branco e sorvia o perfume das flores.
Seu pai, um homem claro, de olhos muito azuis ,alegre e muito criativo, não saía do "quartinho dos inventos", criando brinquedos e até um balanço para o neto que estava a caminho.
Os vizinhos gostavam de passear à tarde pela frente da casa, apenas para contemplar tal maravilha da natureza!
Conceição Aparecida nasceu em 21 de fevereiro!
Um bebezinho pequeno, com bochechas rosadas igual a todos os bebes que conhecemos.
Foi assim até os três anos. Irrequieta e peralta , gostava de perambular pelo jardim, mas não somente para apreciar as flores, mas para saboreá-las.
Sim, a pequena criança de cabelos cacheados gostava de colocar as pétalas na boca e mordê-las suavemente , sentindo o perfume intenso que delas desprendia.
Não havia flor que lhe escapasse, as de pétalas vermelhas eram suas prediletas, nem os espinhos das roseiras impediam que se banqueteasse.
Tereza não entendia esse desejo incontrolável da filha, tinha medo que invadisse os jardins dos vizinhos e fizesse deles um sua morada.
Foi assim durante toda a infância e mesmo na idade adulta, continua a deliciar-se com as flores que encontra em seu caminho.
Penso que a pequena comedora de flores tenha alma perfumada ou que seja uma flor encantada que foi transformada em mulher.
Nunca entendi porque não colocaram seu nome de flor!

Nana Pereira

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Carregando pedras


























Algumas pessoas deixam de fazer coisas para não terem trabalho!
Já ouvi mulheres dizendo que não queriam ter filhos para não perderem a forma física, para terem uma casa impecável sem brinquedos espalhados pela sala, sem farelos de biscoitos no sofá, sem barulho nos fins de semana e para não atrapalhar suas carreiras .
Fico só imaginando a vida delas.
Ora , é preciso carregar pedras enquanto se descansa!
Tudo tão certinho sem emoções violentas pode levarnos à depressão ! (risos)
Viver é emocionante, mas dá trabalho!
Ontem ouvi uma mulher dizendo que era uma pessoa realizada!
No mesmo instante pensei que não me considero uma mulher realizada.
Ainda tenho tantas coisas para realizar!
Acho mesmo, que nunca me sentirei realizada pois sempre haverão coisas que ainda não fiz, que quero aprender.
Aquele quadro que ainda não pintei, a viagem à Paris que ainda não fiz, a música que ainda não toquei, os livros que ainda não escrevi, as flores que ainda não plantei no meu jardim,aprender a dançar tango , os netos que ainda não tive e tantas outras pequenas coisas que com certeza inventarei.
A frase soou como aqueles finais dos contos de fadas "E foram felizes para sempre".
Que vida mais monótona teve a Branca de Neve, casou-se com o príncipe e foram felizes para sempre.
A vida dela parou ali, naquele momento,ou seja, a resistência do chuveiro deles nunca queimou, a água do filtro nunca acabou, o cachorro deles não destruiu os dois sofás da sala,nunca armaram uma árvore de Natal com as crianças , o violino dela nunca caiu no meio de um concerto, os pombos nunca invadiram o quintal deles e ela nunca queimou panelas.
Ficaram velhos num casamento morno e chato, sem filhos, sem os problemas rotineiros que nos torna humanos.
Que me perdoem os Irmãos Grimm ,eu escreveria uma história diferente , mais divertida .

...Era uma vez, uma linda princesa chamada Branca de Neve, cuja beleza não era lá essas coisas, de pele clara,olhos sonhadores, cabelos lisos cor de mel, meiga, tímida e brincalhona.
Era exímia fazedora de bolos de chocolate , bolinhos de chuva e brigadeiros.
Seus brigadeiros faziam um enorme sucesso em todo o reino!
Casou-se três vezes!
Do primeiro marido teve duas lindas filhas, uma formou-se em administração e trabalha na área financeira de um grande Banco, a outra formou-se em hotelaria e atua na área de Marketing de uma empresa do ramo de bebidas.
Aprenderam idiomas, música, dança e conheceram Guy de Maupassant e Fernando Sabino muito cedo.
O segundo marido era bem mais jovem que ela, queria filhos e ela já tinha 38 anos e não pretendia tê-los mais, todavia foi com ele que ela viveu os melhores cinco anos de sua vida.
O terceiro marido era um sapo, ciumento e egoísta. Não podia dar certo mesmo.
Sabe-se que atualmente ela toca violino em uma orquestra educacional, anda publicando algumas de suas histórias , tem queimado muitas panelas, plantado girassóis em seu pequeno jardim , feito merengue de morangos e carregado pedras, enquanto aguarda que o quarto marido a encontre para começar uma nova história de amor.

Nana Pereira