segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O funeral da boneca












Na noite anterior, várias flores damas da noite haviam perfumado os canteiros ao redor da casa, o cheiro adocicado ainda permanecia no quintal naquela tarde.
Num canto , perto do jardim, sentei para brincar com minhas bonecas de papelão.
Naquele tempo existiam bonecas de papelão que enfeitavam as garrrafas de refrigerantes nas mesas de aniversário e tão logo a festa acabava, rapidamente eu as recolhia para brincar.
Era uma daquelas tardes quentes de mormaço em que qualquer esforço mínimo era simplesmente insuportável.Sentei-me à sombra com minhas bonecas de papelão e reparei que uma delas estava com o pescoço por um fio.
Menos uma, pensei!
Foi aí que tive a idéia de dar-lhe um funeral digno, com velas, rezas e até lágrimas.
Pobre bonequinha, tão jovem!
Deitei-a sobre a tampa de uma caixa de sapatos e munida de duas velas brancas e uma caixa de fósforos, dei início ao funeral.
Lembro-me de cantar baixinho a música "O pequenino grão de areia", acho que era porque toda vez que ouvia esta música eu chorava .
E não foi diferente daquela vez.
Cantei toda a música enquanto acendia as velas ao lado do "corpo" inerte da boneca .
O perfume doce das flores, o cheiro da parafina das velas queimando, a música triste e a reza faziam do funeral um momento solene.
Enquanto as velas ardiam ao lado do corpo da boneca, comecei a cavar o local onde a enterraria .
Tudo muito solene e respeitoso!
De repente, o portão se abre e entra meu pai com aquela cara de poucos amigos !
Rapidamente, ele percebe as velas acesas e as apaga rispidamente dando-me um safanão.
Senti uma mistura de tristeza e raiva por sua incompreensão .
Em silêncio , terminei o funeral da boneca sem nem mesmo o final da reza.
Depois daquela tarde, nunca mais brinquei com as bonecas de papelão...

Nana Pereira

2 comentários:

Eu disse...

Bonito blog, passe tb pelo meu.

Anônimo disse...

vc também a sua Bruaca ! Instruções no post do Contatos Imediatos