segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
O tempo e o vento
Houveram épocas em que o relógio era meu fiel companheiro de todos os momentos, às vezes até dormia com ele.
Meu dia era cronometrado, cada minuto tinha uma importância vital.
Acho que eu tinha uns oito relógios, todos funcionando. Em casa haviam seis relógios de parede.
Durante muitos anos segui à risca os horários , sempre fui do tipo pontual e muitas vezes cheguei antes do horário em meus compromissos.
Não posso reclamar, foi uma época feliz em que eduquei minhas filhas.
Tínhamos horário para comer, conversar, ler, brincar, estudar e sonhar.
Está certo que os sonhos ficavam no final da fila, mas sempre estiveram presentes.
Hoje, continuo tendo a mesma quantidade de relógios, mas estão perdidos em alguma gaveta.
Acordo com a luz do sol entrando pela janela, almoço quando tenho fome, aprecio achuva caindo na torre da igreja, encanto-me com a luz das estrelas.
Hoje fui ao dentista e saí bem antes para poder andar sem pressa, observar os caminhos, as pessoas, as árvores .
Gosto de sentir o vento no rosto, nos cabelos, sem importar-me se vão despentear-me .
Gosto de poder sentar-me em um Café e comer minha torta predileta acompanhada de um café e olhar para as pessoas que passam apressadas.
Já tive pressa também e entendo que faz parte de nossa vida essa fase de correr contra o tempo.
Hoje, prefiro correr com o vento, ao seu lado, desfrutar da brisa , do sereno e da delícia que é estar viva.
Semana passada, estive no médico e contei-lhe que tenho acordado durante as madrugadas para escrever, que as idéias e as palavras querem sair do meu cérebro para o papel.
Ele receitou-me um remédio para eu dormir sem acordar durante a madrugada.
Disse-me que preciso dormir, afinal não sou nenhum Jô Soares ou alguma escritoar famosa.
Saí do consultório sentindo um certo pesar, uma certa tristeza, não por não ser o Jô Soares, mas por ver que em nossa sociedade não é permitido sonhar, se sonhamos somos loucos e irresponsáveis.
Não tenho a pretensão de ser um Jô Soares de saias, mas também sei que ele não nasceu famoso e que deve ter ouvido muitas histórias e conselhos deste tipo: Arrume um emprego e escreva nas horas vagas, afinal você não é nenhum Rui Barbosa.
O que se pode esperar de um país onde a leitura não é incentivada, onde cultura é só para quem tem dinheiro?
Enquanto isso deixo que o vento acaricie meu rosto e despenteie meus cabelos enquanto sonho....
By Nana Pereira
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