domingo, 28 de junho de 2009

O baile

"Pelo exemplo de Beatriz compreende-se facilmente como o amor feminino dura pouco, se não for conservado aceso pelo olhar e pelo tato do homem amado."
Dante Alighieri








Formavam um par perfeito, parecia que haviam sido talhados um para o outro.
Era incrível como suas almas e seus corpos se entendiam .
Ele costumava dizer- "Você é o meu número", e ela respondia - "Você é perfeitinho para mim"!
Os anos passaram e ele nunca a pediu em casamento.
Ele dizia que a amava.
Ela o amava.
Um dia , ela cansou de esperar, sabia que não viveria sem ele, mas também não mais conseguiria viver apenas de alguns momentos.
A vida seguiu seu curso e cada qual com seu destino.
Ela tornou-se uma reclusa, poucas vezes foi vista depois da separação. Passava horas escrevendo poemas, namorando as estrelas e imaginando como poderiam ter sido suas vidas.

Tantos anos sem vê-lo, tantas lembranças guardadas em uma caixa de madeira , e agora aquele convite para uma festa à fantasia.
Tomou coragem e resolveu comparecer. Iria disfarçada, não queria que a reconhecessem.
Há muito não era mais a mesma.
O sorriso que era sua marca registrada havia sumido de seu rosto, os olhos alegres e brilhantes tinham agora uma pequena luz triste.

Quando chegou ao Clube ficou espantada com a quantidade de luzes e com a decoração.
Parecia um castelo de contos de fadas, mulheres vestidas com roupas brilhantes, diáfanas, homens em trajes ora engraçados, ora saídos de um conto de Perrault.
Entrou sorrateiramente com sua fantasia azul ( uma mistura de fada e princesa árabe) , subiu a escadaria de mármore e encostou-se a uma pilastra de forma que ficasse observando sem ser vista.
O local estava cheio de pessoas alegres, as paredes azuis pareciam ter ouvidos, as grandes janelas brancas mantinham-se fechadas por ser uma noite fria de agosto.
Meia hora se passou quando de repente , uma figura masculina vestida de pirata lhe chamou a atenção.
Apesar do lenço na cabeça e do tapa olho ,não havia dúvidas, era ele.
Por um instante perdeu o fôlego, ficou sem ar e pensou que fosse desabar.Abriu uma das janelas para poder respirar e uma lufada de vento entrou agitando seu véu e levando seu perfume aos quatro cantos do salão.
Como se tivesse reconhecido o perfume, ele olhou por todo o recinto a procura daqueles olhos que brilhavam quando encontravam-se com os seus.
Foi até o terraço de onde podia-se ver um céu cheio de estrelas, aspirou o aroma da noite que misturava-se com a lembrança do perfume doce que ela usava.
Debruçou-se no balcão, fechou os olhos e a saudade invadiu toda sua alma . Tinha desperdiçado sua chance de ser feliz há muitos anos.
Abriu os olhos enevoados e vislumbrou um vulto de mulher envolto em véus azuis, dobrando a esquina.
Agora caía uma leve chuva , como se o céu chorasse a falta dela também.

Nana Pereira

Um comentário:

Unknown disse...

Nádia,
Não tenho o seu dom e por isso cito Charles Chaplin:

"Não faças do amanhã o sinônimo de nunca, nem o ontem te seja o mesmo que nunca mais. Teus passos ficaram. Olhes para trás ... mas vá em frente pois há muitos que precisam que chegues para poderem seguir-te."

"A beleza existe em tudo - tanto no bem como no mal.
Mas somente os artistas e poetas sabem encontrá-la."